segunda-feira, 12 de abril de 2010

Sem palavras

Cada frase dita é uma vontade não realizada. Cada “Eu te amo” é a falta de um abraço encorajado ou um beijo apaixonado somente imaginado. Palavras, nada. Uma pergunta, insegurança na conclusão própria, receio do desconhecido, de descobrir o mistério sozinho. Um convite, medo. Receio de expor o querer puro e inocente, da aceitação ou do temor da solidão. Palavras, o triunfo da derrota. Palavras, nada.

Por pouco não sou vencido por essa praga. Mas aqui não há palavras. Meus dedos teclaram o “F”, teclaram o “A”, teclaram o “Z”, o “E” e o “R”. Há materialidade na sobreposição do red, do green e blue do monitor. É uma extensão da minha essência. Como uma música, uma pintura, um soco na cara. É criação, pois palavras, nada.

Portanto, não diga que me ama ou odeia. Passe na minha casa. Espero um jantar pago, um beijo ou carta de despedida, um grito de desespero, um empurrão no peito. Não comente esse texto, não estou interessado, não é necessário dizer nada. Se escrever um bilhete, é ele próprio o que importa. Não é nem mesmo seu conteúdo, mas o seu peso. Então, não me diga nada, pois serão só palavras.