sábado, 27 de fevereiro de 2010

Por que o futuro da humanidade é assexuado


Baseado nos tempos "moderninhos" e sem barreiras sexuais que estamos vivendo, um dia um amigo me disse acreditar que o futuro da humanidade é bissexual. Ninguém será de ninguém, a orgia será generalizada, todos sairão com todos e o compromisso e o relacionamento sério serão apenas notas de rodapé de textos de antropologia e sexualidade, tal como as famosas alcoviteiras da era medieval. Eu, por outro lado, acredito exatamente no oposto : o futuro da humanidade é assexuado. E tenho vários argumentos para isso.

É fato que existem muitíssimo poucos tabus hoje em dia. Talvez, em nível sexual, não haja mais nenhum. A humanidade já viu de tudo - ou 99% de tudo, seja do pior ou do melhor. Hoje existe espaço para qualquer bizarrice em termos de relacionamento , basta você procurar no lugar certo (ou seria o errado?) . Então, discussões a respeito do assunto, que antes poderiam alarmar pessoas por dias e dias, hoje são escancaradas em telejornais às 20 h , horário em que crianças ainda estão acordadas, e só conseguem causar sono e tédio nas famílias. Ninguém se abala se a filha de 07 anos está vendo uma professora de pole dancing instruir as suas alunas na televisão. Ninguém se choca. O sexo virou rotina. Sexo, sexo, sexo.

O movimento feminista e o sexandthecityista também colaboraram para que qualquer erotismo se tornasse um perfeito enfado. Todas agora são muito loucas e fogosas e transam na posição origami psicodélico, é só você querer. Todas são beldades, também. O último Carnaval foi um ótimo exemplo para mostrar que hoje todas as mulheres têm silicone, todas são loiras, todas são malhadas , todas são bronzeadas e todas são "gostosas". Um exército de gostosas. Bundas e bundas que passam em frente a olhos masculinos bocejantes. Corpos e rostos todos iguais. Perdeu-se a individualidade do corpo: aquela em que uma tem o seio pequeno, outra os cabelos mais crespos, outra uma pele mais branca. Todas - e todos, já que a banalização corporal atingiu a classe masculina também - têm as mesmas curvas e os mesmos cabelos. O mesmo cérebro. A mesma conversa. Como disse um professor meu, hoje em dia todas são tão identicamente perfeitas que para ele a charmosa é aquele com um dente um pouquinho torto, a sexy é aquela com o cabelo crespo, a bonita é a com um corpo normal, e não masculinizado de tanta academia. Um exército de mulheres gasta quantias obscenas de dinheiro para tornar seu corpo cada mais libidonoso, mais ousado, mais desejável, mais sexy. Fico pensando se não é tedioso para um homem ir a uma festa e ver 90% das mulheres mostrando 95% das pernas e 100% do decote. Os seios deixam de ser o mistério a ser revelado e viram apenas uma carne cotidiana. Mais sexo, mais sexo, mais sexo.

As relações, por sua vez, tornam-se cada vez mais fúteis e efêmeras. Existe pouco interesse em manter um relacionamento sério e com sentimento. Mulheres , querendo ser modernas ou fingindo ser, afirmam que não querem nada além do sexo. Homens , aproveitando o espaço que as mulheres proporcionam, também não vêem razão para perder tempo com um relacionamento. Surgem relações de 2, 3 dias. Enjoa-se fácil. Namoros são terminados porque "ela não transava do jeito que eu queria" ou "ele não quer transar comigo todo dia". O sexo é a prioridade, e não o complemento do relacionamento. É ele, de novo. O sexo.

A obsessão pelo sexo tornou-se tão doentia que é difícil hoje em dia manter um papo decente e minimamente cerebrado com alguém por aí. É difícil encontrar uma pessoa do sexo oposto que realmente queira uma conversa desinteressada - porque muitas vezes, quando essa conversa ocorre, todos nós já sabemos qual é o interesse : é o sexo. É tremendamente complicado achar um único alguém que tenha um papo suficientemente culto e uma vida deliciosamente vivida para você voltar para casa e pensar "Puxa, como ele é interessante." Todos são iguais. Todos são a mesma genitália burra de sempre. Pênis burros e vaginas burras que vão a micaretas e fazem a mesma dança do "Oi tudo bem qual seu nome o que vc curte costuma sair quantos anos você tem " para se acasalarem, se despedirem e procurarem uma outra genitália burra com a qual possam acasalar. São conversas e pessoas tediosas que não me despertam o menor interesse. É doloroso olhar no calendário e pensar : "fazem tantos meses que não encontro alguém de valia". Aquele alguém que coloca um pingo de tinta vermelha em pilhas e pilhas de folhas em branco. Hoje as folhas brancas se acumulam. Elas gritam "SEXO!" cegamente, e nada mais conseguem enxergar.

É por isso tudo que acredito que o futuro da humanidade é assexuado. Assexuados célebres como Morrissey, Moby e o nosso querido Sheldon Cooper têm justificativas indiscutíveis dos benefícios do não-envolvimento com qualquer ser humano. Não sou partidária do assexualismo e ainda gosto de homens, e ainda estou interessada em relacionamento com eles. Mas é muito lógico e compreensível ser assexuado. Sex is overrated. Existem tantas coisas mais incríveis do que o sexo pelo sexo no mundo, por que raios ele deveria ser assim tão superhipervalorizado? É isso que defendem os assexuados. Eles não se interessam no sexo. Sexo é para os fracos. Apenas uma humanidade desesperada por prazeres carnais se entrega a eles, ao invés de se dedicar às artes, à ciência e a causas filantrópicas, de forma integral e voluntária. Os assexuados não são fracos assim.

Portanto, levando em conta o banho que levamos todos os dias de conversas sobre sexo, reclamações sobre sexo, programas sobre sexo, lingerie, camisinha, strip tease, como fazer seu homem enlouquecer na cama, como dominar sua mulher em 10 dias, como deixá-lo louco , como deixá-la subindo pelas paredes, e peitos siliconados, e bundas avantajadas, e requebro, e rebolation, e aumente seu pênis em 10 dias, e viagra, e himenoplastia, e isso e aquilo, etc e tal, continuamos atordoados de tanto sexo, sexo, sexo. Sentindo sono, sono, sono.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

A estrada de ladrilhos amarelos



Dorothy deixou Oz e voltou ao Kansas.
E descobriu que nenhum homem possuía cérebro. Nem coração. E muito menos, coragem.