sábado, 4 de agosto de 2007

Merdinha de vida bonitinha


Que faz a gente pensar o quanto somos felizes sem motivo. Ao mesmo tempo em que caímos na real e vemos que somos na verdade felizes, mas como compradores de um modelo enlatado de felicidade.

Mas depois voltamos a perceber que não há, para nós, outra felicidade. Então aquela felicidade falsa, enlatada, que nos dão a toda hora, em qualquer lugar, é a verdadeira felicidade, pois é a única que conhecemos.

E nos faz feliz.

Muito.


E ter felicidade deve ser igual comprar Milho Verde: primeiro só tinha a versão em lata. Agora podemos escolher entre várias!!!!!

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

O mundo silencioso.



num esforço para que as pessoas
olhem mais nos olhos umas das outras,
e também para satisfazer os mudos,
o governo decidiu determinar
para cada pessoa exatamente cento
e sessenta e sete palavras por dia.

quando toca o telefone, ponho-o ao ouvido
sem dizer alô. no restaurante
aponto para a canja de galinha.

estou me ajustando bem ao novo jeito.
tenho estampas para todas as ocasiões.
cada manhã invento uma nova frase
que imprimo numa camiseta,
como os seres humanos estão vindo
ou karaokê para mudos.

tarde da noite, ligo para meu amor distante,
orgulhoso digo somente gastei cinqüenta e nove hoje.
guardei o resto para você.

quando ela não responde
sei que usou todas as suas palavras
então sussurro lentamente
eu amo você
trinta e duas vezes e um terço.
depois disso, ficamos junto à linha
ouvindo um o respirar do outro.


jeffrey mcdaniel (tradução de mauro faccioni filho)


* retirado do blog welcome home, roxy carmichael.

O que a gente espera de uma manhã chuvosa?


A janela molhada

O primeiro cigarro aceso na sacada

As gotas caindo da folha da planta

A avenida lotada logo cedo

Os táxis todos fora do ponto

As pessoas correndo

Um almoço marcado para o meio dia

Que pode ser atrasado para a uma hora

Que pode ser arruinado pelo bad hair day.



O que a gente espera de uma manhã chuvosa?

A gente espera o sol.

E só.

Na esperança de que brilhe e esquente tudo.

Para que a avenida volte ao normal

Os táxis voltem ao ponto

As plantas sequem

E o cabelo fique lindo e solto.

Só o sol.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Uma mulher, numa quarta-feira e plim.


"Esta mulher acordou e fazia um belo dia de quarta-feira, o cheiro da manhã era feito primavera, os pássaros cantando que bem-a-viram e todo aquele clima de rara felicidade matutina tomou parte da sua alma. Almoçou e não reclamou da comida, que pela terceira vez a mãe requentava, já que "tava boa ainda" e seria "um desperdício colocar essa feijoada fora".

Ela se arrumou toda e saiu de casa. Foi fazer hora extra e nem se importava com isso porque ela gosta do que faz e, ainda por cima, ela ia ver uma de suas grandes amigas - colocar as conversas em dia (lê-se "curar as almas"). Chegando no centro da cidade, bem-humorada ela até se deu o luxo de observar aqueles trapezistas que pelos quais sempre passava reto, porque nunca tinha tempo: até conseguiu dar umas risadas do palavreado que eles usavam pra enrolar o povo até darem seus saltos mortais.

Chegando no trabalho, ela vê a amiga. Elas começam a conversar, procurando soluções. Ela sofria por um "amor-antigo-mal-resolvido" e sua amiga sofria por um "amor-quase-perfeitamente-resolvido", assim como toda a relação acaba sendo mesmo, e achava que até aí tudo bem pois todos namorados têm problemas às vezes, isso é normal. Mas, caros leitores, o problema, o problema de verdade, chegaria logo depois: era uma quarta-feira, sabem? Daquelas em que as coisas simplesmente não acontecem.

Acabado o expediente, ela deu "Tchau!" à amiga, virou-se e sentiu algo estranho. Plim. Um cheiro do passado que a fez pensar: "Eu quero ele, e quero agora!"- Plim.
Decidiu, então, tentar tapar o vazio. Esse vazio que dá do nada, sabem? O vazio que vem da dor de algo perdido, que mora na semelhança que a gente sente com essa coisa perdida. E ela caminhou. Caminhou por horas no meio daquele centro de cidade fedorento, cheio de pessoas, horário de pico, tudo errado. Ela percorreu todos os caminhos pelos quais ela andou com essa coisa perdida (ele!) tentando rezar pra que ela o encontrasse alí no meio, assim, feito mágica. Ela subiu a rua, desceu, foi até à cafeteria, à doceria, à praça, ao museu, à outra cafeteria, à loja de suco... e nada! Nada dessa pessoa sonhada... e aí o vazio doeu.

Ela então foi ao shopping, se empanturrou de junk food, deu uma passada no mercado pra comprar um pacote de cookies de chocolate dos mais caros que se tem notícia e uma garrafa de vodka das boas.
Chegando em casa, ela assistiu novela, escutou música, comeu 3/4 do bolo de chocolate que a tia trouxe, comeu o pacote inteiro dos cookies, mexeu no computador, encheu a cara com a vodka e escreveu esse texto."*



*Lê-se : "É ótimo ter noção de quando a TPM surge assim, plim, do nada, não é mesmo, garotas?"

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

O Platonismo




O amor platônico, aquele não-realizado, o idealizado e sonhado, é uma coisa tão idiota.



As pessoas sofrem à toa, tentam disfarçar seus sentimentos, com medo da rejeição do outro amado. Eu odeio isso. O mundo seria tão mais simples se um se declarasse ao outro sem compromisso, sem medo.
Imagino quantos pares já não existiram nesse mundo em que um amava platonicamente e outra era a amada sem saber que era. João e Teresa eram amigos - João era loucamente apaixonado por Teresa, mas achava que ela, por ser tão bonita, inteligente e ousada no seu vocabulário, nunca se interessaria por um João tão comum, tão moreno de olhos castanhos e tão balconista de lanchonete.
Por isso , João , sempre que via Teresa, ficava com um nó na garganta. Um nó formado por frases não-ditas, filhas do Receio e da Insegurança. Quantas vezes Teresa não chegava linda, sexy e poderosa à sua frente, com seu sorriso atrevido e ao mesmo tempo tão doce, e João deixava escapar o momento de dizer "Caramba, mas você está maravilhosa hoje". Afinal, por que Teresa ia gostar de um elogio vindo de alguém tão desprezível? Era bem capaz dela começar a odiá-lo por ofendê-la com tal abordagem constrangedora.
Quantas vezes João , encantado com as coisas que Teresa lhe dizia, não morria de vontade de segurar a moça e dizer , num tom de voz dos mais confiantes: "Teresa , não dá mais. Você é linda, você é inteligente, você me faz rir, você é minha amiga. Fica comigo , Teresa. Eu quero te beijar, eu quero você, entendeu? Se você não quiser ficar comigo, eu terei de lidar com isso, mas Teresa, é você quem eu quero".
Mas João não disse. João, ao invés disso, deu um sorriso quadrado e burro para Teresa, fez uma cara de bobo conformista e pensou "ufa, não fiz besteira". E ficou ouvindo as peripécias de Teresa, vendo-a tomar seu cappucino de forma tão despreocupada, admirando cada detalhe dela em silêncio.

Naquele dia, Teresa, mesmo com toda sua beleza e encantamento, chegou em casa, ouviu "Oh! Darling" dos Beatles , ficou duvidosa e pensou em João. E irritou-se por não saber mais o que fazer para agradá-lo. Ela se arrumava, tentava ser o mais bela possível, a mais inteligente, fazia mil tiradas irônicas e puxava todas as sacadas de sua manga , mas João mostrava-se indiferente, ao que parecia.
Por que ele era assim? Ele que tinha toda uma beleza selvagem dentro dele, e não a percebia. Ela tinha certeza daquilo, tinha certeza de que se tirasse aquele boné com a logomarca e a camisa polo, e lhe dessem um banho de loja, e uma dose de auto-estima, ele seria um dos caras mais sedutores já vistos. Ele que tinha um sorriso malandro e ingênuo. Ele que não fazia pose como os demais. Ele. Ele daquele jeito mesmo era tão encantador. Talvez ele tivesse consciência de sua beleza agridoce e de seus maus modos incrivelmente irresistíveis, e por isso a tratava apenas como uma irmã mais nova. Talvez ele queria mais do que ela podia oferecer.
Mas ela se esforçava tanto! E naquele dia ela ainda havia colocado seu vestido mais atraente , e estava impecável! E João não disse nada. Ele deveria ser um grosso, um desses rudes que gostam dessas comuns por aí, dessas comuns de gosto-comum e senso-comum . Ou então ele era gay, vai saber.
Teresa, então , desligou o cd player e esqueceu João.
Essa tarde mesmo ela passou em frente à lanchonete de mãos dadas com um outro alguém.




O nó na garganta de João nunca havia sido tão grande, até hoje.

terça-feira, 31 de julho de 2007

TOP 5...

... músicas que estou viciada desde o fim de semana.

1- A regravação imbatível de Perhaps, Perhaps, Perhaps com Cake.
Tenho achado cada vez mais que eles são a melhor banda de todos os tempos, mas são meio que esquecidos pela galera. Dei até upload na música pra quem nunca ouviu poder saber do que estou falando. Adoro! Melhor que a original. Perhaps, perhaps, perhaps - Cake

2- Gold lion do Yeah yeah yeahs.
Na verdade estou numa fase muito Yeah yeah yeahs. Sempre amei, mas passei o final de semana baixando música deles e agora estou oficialmente viciada.

3- Say so do Uh huh her.
Essa banda é nova. Quem assiste The L word já conhece a Leisha Hailey. Ela interpreta a Alice minha personagem preferida, ótima atriz. Aqui ela canta, e a banda é muito boa. Ela já teve várias bandas, e essa é a mais recente. Pra quem quer conhecer entre no site, tem um audio player que da pra ouvir essa outras músicas do álbum de estréia. Lembrem-se de desbloquear pop up pro audio player aparecer!

4- Ice cream do New young pony club.
Essa música é viciante por si só. Quem nunca ouviu também da pra ouvir no site oficial da banda.

5- E pra fechar com chave de ouro. Young Americans do David Bowie.
Bom, é David Bowie né? Acho que não precisa muita explicação!

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Hoje eu tive um surto romântico.


Você pode estar namorando há dez anos ou há dois meses, isso não importa, mas talvez você ainda não saiba a real diferença entre fazer amor e fazer sexo.

Está nas músicas que vocês ouvem [ou não] durante a relação;

Está em reparar nas pequenas coisas ao redor de vocês, como a janela embaçada, típica cena de filme;

Está nos olhares;

Está nos beijos – ou ausência deles;

Está em saber dizer se foi amor ou não – e principalmente nisso.

As relações são tão frias hoje em dia, perderam o romantismo, e com isso perdeu-se o hábito de fazer amor. Hoje em dia o que importa é transar. Com o maior número de pessoas possível, no maior número de lugares inusitados possível.

Perdeu a graça. Tudo perde a graça quando perde o romantismo.

Hoje, chegar numa balada e tomar algo forte, incorporar um personagem e sair “pegando todo mundo” soa legal. Mas só soa legal porque você não sabe o que é fazer amor.