quinta-feira, 21 de junho de 2007

O quê se pode entender?


Cada pessoa é um universo. Incrível como cada pessoa possui seus métodos de percepção das coisas em diferentes níveis e diferentes vivências. A pessoa é tranqüila ou nervosa, feminina ou masculina, forte ou fraca... A outra pessoa também pode ser tranqüila ou qualquer um dos outros restos, e elas até passam pelas mesmas coisas; mas pra cada situação, elas reagem de modo semelhante a princípio, mas depois de conhecê-las, as atitudes realmente podem variar. Uma pessoa conhece a outra pessoa, vê nela algo de si e assim a adora. As pessoas se sentem bem ao encontrar alguém semelhante, e elas se unem aí. Esse é o interesse de estar nas pessoas, de estar fora de si: é a perspectiva de não estar sozinho no mundo. Pois é. E cada um é um universo. Às vezes estamos tão presos e enfiados em nosso universo que a gente não vê o que tem no universo do próximo. A gente fica tão cego que a gente não vê o próprio universo. E muitas vezes nós vemos o nosso universo tão bem e somos tão questionadores que acabamos nos perguntando se a verdade do outro não é mais verdade que a nossa. Será que estamos errando e somos tão errantes assim? Nós fomos criados por alguém. Será que os pais de todo mundo estavam certos? Somos tão irracionais assim? Nosso subconsciente fala tão alto assim? Hoje eu vi uma família no ônibus e eles estavam fazendo o seguinte:

Cena: Linha Florianópolis/ Mathias Velho/ Canoas. Os pais com seu pequenino. Eles estavam sentados e alegres porque haviam comprado um mini-system nas Casas Bahia. Aí então foi quando o menininho, no colo da mãe, querendo jogar uma bolinha de papel do tamanho de uma jujuba para fora da janela do ônibus, "provocou" essa situação...

A mãe:
- Não vai jogá!!!! - dando uma “bifa” na mãozinha de aproximadamente um ano daquele menininho.

Aí o menininho começou a chorar e o pai pegou um pacotinho de bala de goma de dentro da sacola da firma e falou:

- Toma filho. Toma a balinha... - o menininho, chorando, recusou. Aliás, ele nem sequer olhou para o pai – Ah, não quer, é? Eu vou dar pra mãe então, quer, mãe?

- Ah, eu quero... Humn... Que balinha boa...

O menininho nem olhou, ele olhava para fora da janela. Aí o pai e a mãe comeram as duas últimas balinhas de goma do pacote. O menininho tentou jogar de novo o papelzinho pela janela e a mulher pegou o braço dele com toda a força (que podemos imaginar) que uma mãe furiosa possa ter para tomar uma atitude assim com o próprio filho. Mas ele atingiu o seu objetivo. Agora a bolinha de papel estava em contato com algum pedacinho do asfalto, e ele olhava distraído lá para baixo. Tão distraído que (choquem-se) ele não percebeu que estava com a mãozinha na coxa da mãe.

A mãe, nervosa:
- Mas o que tu pensa que tu tá fazendo com a mão na minha coxa, hein, seu safado?

Sim, ela deu três ou quatro bifas, mais fortes ainda que a primeira, na mão do garoto. O pai ria, dizendo "Ah, esse é dos meus", e nessa altura o garoto já estava em prantos e teve a atitude que estava ali, desde o começo prestes a acontecer: o garotinho deu uma bifa na mão da mãe e depois, de quebra, na mão do pai. Eu fiquei atônita, e mais ainda fiquei quando o pai disse:

- Isso, filho! Bate! (risos) Bate mais forte!!
- É, bate aqui no banco ó, bate com força! - disse a mãe, e o guri começou a bater no banco.
- Isso, bate com o punho fechado!
- Mais forte!!! - e, dirigindo-se ao marido - Ai, Ai! (risos) Ele é tão fraco que vai acabar quebrando a mão!

Depois de uns 20 "tapas" que o menino deu no banco, com os pais rindo alegres, o gurizinho começou a achar isso divertido e correto.

Pelo que eu me lembre, nenhuma situação assim aconteceu comigo quando eu era pequena, mas uma série de outras situações estranhas aconteceu e eu sei mais ou menos o quanto elas influíram na minha personalidade. Agora, o quanto essa atitude desses pais vai influenciar na vida desse garotinho? Será que há pessoas próximas a mim que viveram a mesma coisa e são grossas ou agressivas porque sofreram esse tipo de situação quando pequenos? Eu sou capaz de entender perfeitamente. Eu me disponho a ouvir. Eu tento ser justa. Mas e quanto a mim? Quem vai entender ou ter esse tipo de preocupação? Eu nem sei se alguém vai ler essa história toda ou vai ter alguma coisa a dizer a respeito, até porque quase ninguém mais tem interesse puro, e eu nem sei se isso já existiu alguma vez. A massa consegue olhar só pra si, hoje eu li uma frase numa "pastelaria-evangélica-da-esquina":

"Deus lhe deu a vida pra que você cuide da sua".

Tem tanta coisa ruim... E tanta coisa boa também, mas quem consegue aproveitar o bom? Quem consegue se deslocar de si, ver o mundo por cima e conseguir ter uma visão de si nesse mundo para poder melhorar ou apenas aprender a agüentar essa sua convivência quase forçada com o mundo? Eu tento. Eu não quero mais abraçar o mundo. Eu faço um esforço imenso e hoje eu aprendi que eu não posso esperar das outras pessoas as coisas que eu faço por elas, só para não me machucar mesmo. O bom mesmo seria conseguir um dia achar divertido e se bastar apenas ao ficar observando as pessoas. Ou então tentar esquecer disso tudo e parar de fazer drama, não é mesmo?

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