quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

O que estou ouvindo agora agora - 50 músicas do ano

Fiz uma seleção das 50 músicas que mais marcaram meu ano ano em 2007. Algumas podem até ter sido lançadas anteriormente, mas se chegaram aos meus ouvidos este ano tá valendo! Eu fiz um ranking meramente ilustrativo, tenho uma grande dificuldade em rankear as coisas que gosto, mas serve como uma idéia das músicas que me impactaram com mais força. Chega de explicação e vamos lá!!


1 – Amy WineHouse – Rehab

Ao meu ver Amy Winehouse foi a artista que mais marcou 2007, tanto pelas suas polêmicas e constantes aparecimentos sob uso de drogas e alcool como elegios pelo seu ultimo e excelente cd "Back to Black". E foi "Rehab", que até virou gíria, e fez o mundo voltar suas atenções para essa desajustada, uma música pegajosa, com letra irônica e hino de todos os bebuns do mundo assim como o blogueiro que vos escreve. Vida longa a Amy Winehouse! Espero que as drogas provoquem um efeito de longevidade a ela como fizeram para Keith Richards
2 - Artic Monkeys – Fluorescent adolescent

Quando surgiram em 2006 ninguem dava nada pelos moleques do Artic Monkeys, mas este ano com seu 2° CD eles mostraram realmente ter potencial e que não ligam para a pressão da mídia. "Fluerescent Adolescent" é a música de maior apelo popular que a banda já lançou e melhor do ultimo CD.
3 - Spoon – You Gou Yr. Cherry Bomb

Dá vontade de colocar o CD interiro do Spoon na lista dos 50 mais, mas escolhi esta, que é típica canção que a 1ª vista pode passar despercebida, mas a medida que vai sendo escutada mais vezes vai crescendo e viciando nossos ouvidos.
4 - Klaxons –Golden Skans

Não vou negar que dá uma antipatia ficar ouvindo falar da nova onda de Klaxons, new rave e bibibi... Mas não há como negar que Golden Skans independente do rótulo que receber é uma excelente canção e que marcou o ano
5 - Justice – D.A.N.C.E.

Vocais a la Jackson 5, refrão pegajoso, produção caprichada, vídeo espetacular (o melhor do ano em minha opinião)... impossível não se deixar levar por essa música, esquecer de tudo que está fazendo e sair dançando
6 - Radiohead – House of Cards

Outro caso de CD que dá vontade de colocar todas músicas juntas no Top 50, "In Rainbows" é um dos poucos cds da nova fase do Radiohead em que o ouvinte não tem que "aprender a gostar". O som pode até não cativar na primeira audição, mas ele não soa complicado ou irritante. Pelo contrário, é extremamente agradável e simples, e "House of Cards" é a que mais exemplifica essa nova fase da maior banda do mundo.
7 - LCD Soundsystem – All my Friends

"All my Friends" é a música de escolha para contradizer quem fala que "música eletrônica e tudo igual e não tem conteúdo". É uma faixa estendida, com mais de 7 minutos de música, presença de instrumentos e letra sobre amizade, ou seja, fucking amazing!
8 – Feist – 1234

O vocal mais doce que está tendo, Feist saiu do indie e conquistou o mundo com seu novo CD "The Reminder". 1234 é o tipo da música que emociona, conforta, faz o dia ficar mais ameno. Já foi escutada a exautão por quem vos escreve e mesmo assim dá vontade de escutar mais.
9 - Interpol – The Heinrich Maneuver

A primeira música da seleção com uma pegada 'rock' mais forte, essa música do Interpol já empolga na 1ª audição, dá vontade de sair gritando o refrão dirigindo a alta velocidade. A melhor do novo cd e uma das melhores já feitas pela banda
10 - Modest Mouse – Dashboard

Já tinha ouvido falar do Modest Mouse antes mas pra mim a banda só mostrou a que veio com essa música. Não dá pra saber direito onde começa e termina o refrão, a música parece ter o memso ritmo sempre, mas o vocal vai ganhando mais energia com o correr do tempo e no final já estamos com adrenalina a 1000.
11 – M.I.A. – Jimmy

Quem diria que o clima kitsch dos musicais de Bollywood daria inspiração para uma pérola pop como essa? Somente M.I.A. e suas experimentações para realizar o feito
12 - The Pigeon Detectives – I’m Not Sorry

Uma banda nova que merece atenção e já cria fãs somente com esse novo single "I'm not Sorry". Se as estações de rádio fossem mais espertinhas, um novo hit ja estaria aqui.
13 – Gossip –Listen Up!

O The Gossip é uma das bandas favoritas do povo ligado em música no Reino Unido. A vocalista gordinha Beth Ditto é ícone subversivo de estilo e não se acanjha em fazer números de Strip em seus shows ao som de "Sweet Dreams"
14 – Roísin Murphy – Overpowered

A vocalista do excelente Moloko lançou um trabalho solo mais pop, lembrando os bons tempos da música disco.
15 - Santogold – L.E.S Artistes

Outra artista que promete dar muito o que falar ainda, mistura de M.I.A. com Scary Spice, o visual louco de Santogold reflete em sua música que transita por vários estilos com um toque R&B.
16 - The Cribs - Our Bovine Public

Banda sensação na Inglaterra o The Cribs tem vários Hits como "Mens Needs" e "Moving Pictures", mas em minha opinião "Our Bovine Public" é que mais se destaca e merece mais atenção
17 – Amy Winehouse - You Know I’m no Good

Como disse antes, Rehab foi A música de Amy Winehouse este ano, mas You Know I'm no Good é a que eu mais me identifico. Com um clima muito mais dark e maior inspiração em jazz, essa ótima canção não pode deixar de ser conferida
18 – GoodBooks - Passchendaele

Uma das minhas melhores descobertas esse ano, o GoodBooks lembra muito as bandinhas new age dos anos 80 que eu adoro! Essa referencia pode não ser muito evidente neste single, mas está bem clara no restante do cd
19 - Ladytron – Destroy Everything You Touch (Hot Chip Remix)

A versão original dessa música já é ótima, mas o Hot Chip criou uma verdadeira ópera eletrônica, que vai crescendo em energia durante a audição, boa pra escutar cantando bem alto quando se está com raiva de alguém
20 - New Young Pony Club – Get Lucky

Uma das bandas de electro-rock que mais curto na atualidade, foi difícil decidir entre essa música e "Ice Cream" outro hit pegajoso da banda que não deixa ninguém parado na pista
21 - Kings of Leon – On Call
22 - Queens of The Stone Age – 3’s & 7’s
23 - Bloc Party – Flux
24 - The Go! Team –Grip like a Vice
25 - The Shins – Sealegs
26 - Of Montreal – Heimdalsgate like a Promethean Curse
27 - The Fratellis –Flathead
28 - Air – Mer du Japon
29 - Hot Chip –Shake a Fist
30 - Babyshambles –Delivery
31 - Feist – My monn, my man
32 - The Hives –Tick Tick Boom
33 - LCD Soundsystem - Someone Great
34 - Kate Nash – Foundations
35 - Ruarri Joseph – Blankets
36 - Goodbooks – The Curse of Saul
37 - The Concretes – Oh Boy
38 - Super Furry Animals – Show Your Hand
39 - Manic Street Preacher – Autumn Song
40 - The New Pornographers – My Rights versus Yours
41 - PJ Harvey – The Piano
42 - Juliette Lewis & The Licks – Hot Kiss
43 - Suzanne Vega –Frank & Ava
44 - Apples in Stereo – 7 Stars
45 – Kaiser Cheifs - Ruby
46 - José Gonzales – Down The line
47 - Arcade Fire – Keep the car running
48 - Iron & Wine – White Thooth Man
49 - The Ting Tangs – That’s Not My Name
50 – Britney Spears -Radar

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

O Dedódromo


Deus é uma figura masculina e assim, criou primeiro o homem.... mas depois criou a mulher, um ser especial. Deus quis deixar uma marca também especial na sua última criação, um sinal divino, uma demonstração caprichosa de sua infinita complexidade e criatividade. Ele estava sentado em seu esplendoroso trono, pensativo, e tinha a sua criação nua em sua frente. Deus se levantou e se aproximou da criação, imaginando qual seria o sinal peculiar que deixaria marcado naquele corpo. De pé e já encostado no voluptuoso corpo, Deus abraça a criação pelas costas colocando a mão na altura dos seios. Aqui ele já se sente satisfeito com o que criou. Ele desliza suas mágicas mãos pelo corpo, modelando-o, acaricia a barriga, sente a silhueta da cintura e desce até as nádegas. Aqui também sente que fez um ótimo trabalho e continua com cuidado a modelagem. Ele desce até os pés da criação e percebe que tudo está no devido lugar, porém, ainda não deixou a marca especial que tanto almeja. Então Deus leva suas mãos novamente para a cintura da criação, ele aproxima as narinas da nuca do corpo para assim sentir-se inspirado com o perfume da quase perfeita modelo. Agora com mais firmeza e inspirado pelo calor da própria criação, Deus prende os polegares de forma simétrica entre as costas e as nádegas da mulher fazendo movimentos circulares com os dedos. É um movimento sutil, Deus sabe que será quase imperceptível quando pronto, mas tem a certeza que aquela particularidade será o sinal absoluto de seu capricho. Duas pequenas saliências ficam eternizadas no majestoso corpo da agora perfeita criação. Assim Deus criou o Dedódromo.

O Dedódromo é um sinal peculiar, Deus ficou tão orgulhoso desse capricho que decidiu que pouquíssimas garotas teriam esse privilégio. É sempre uma vantagem, seja a garota gordinha ou magrinha, alta ou baixa, loira ou morena. O Dedódromo ajudará a mulher a ganhar elogios e a despertar fantasias na mente dos parceiros. A mulher com Dedódromo só tem a ganhar.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

1 Hora da Manhã

1 hora da manhã.
O ar está gelado e bate forte no meu rosto
a sua imagem ressurge naquela praça,
iluminada de qualquer jeito.

Os sapatos me apertam, o carro não pega,
tenho taquicardia, começa a chover.
a luz da cidade encobre a lua
O universo conspira contra você.

Eu disse a mim mesma que seria a última vez
eu choro e agradeço pelo vidro embaçado
que me poupa do constrangimento
e sigo com o velocímetro nervoso

ligo o rádio por uma música melosa
as luzes, o asfalto, as folhas, o lixo
janelas com luzes acessas, janelas abertas
eu não sei onde você está

o pátio de cimento, os prédios fechados
o mundo sem calor e sem ritmo
uma conferida no endereço e uma prece
devolva a paz do meu mundo.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

'POVO DE ROMA!

Deus criou o Homem.
O Homem criou Nero.
E Nero criou a DANÇA DA MANIVELA!'




Chegou a melhor época do ano!
Pelo menos para mim.
ADORO o mês de dezembro!
ADORO natal!

Mas não estou tão feliz como eu esperava estar. Por isso estou me sentindo meio Charlie Brown nesses últimos dias.

Será gases?
Será o fígado?
Será a idade?

Nessa época, eu sempre me diverti comprando presentes e os embalando das maneiras mais diversas. Mas nem pra isso eu estou animada. Acho que o fato de trabalhar em um shopping e estar a ponto de perder o juízo por causa do consumismo desenfreado que é despertado nas pessoas junto com o espírito natalino, o que me obriga a trabalhar dobrado nessa época, fez com que eu ficasse um pouco desgostosa com a data. Mas eis que me empolgo com algo: montar um cd com músicas que eu gosto para o meu amigo secreto na comunidade 'Que Legal'! De início, confesso, estava com uma pusta preguiça de começar o cd mas quando comecei gostei tanto que fiz dois! Pura diversão!

Top 5 das músicas que foram as primeiras a serem cogitadas para o cd do amigo secreto da Que Legal:

Dança da Manivela: Asa de Águia - Me lembra da versão tosca em inglês que eu ouvi dos meus amigos quando fazia ETE. O título da música ficou 'Dance of handcandle'. Da onde tiraram isso? Manivela = mão + vela ou seja hand + candle = handcandle, quase o mesmo truque usado para butterfly... ou não. E traduziram a letra também é claro: 'here is hot, here is cold, very hot, here is cold. Touch her little face, touch her little tits, touch her little knees...' e por aí vai. Já não consigo mais lembrar da letra! Eu choro de rir quando eu escuto essa música, é vero.

There she goes my beautiful world: Nick Cave & The Bad Seeds - Simplesmente AMO! Essa música é fodástica. Primeiro eu fiquei mega feliz pelo álbum duplo 'Abattoir Blues/The Lyre of Orpheus'. Nick Cave a granel! Ótimo! Depois de escutar os dois cds, fiquei fascinada por essa música e quando vi o Nick no programa do Jools Holland cantando-a quase chorei. Acho que quando eu assistir a um show dele e vê-lo, em carne e osso, cantando essa música, eu morro! Mentira, acho que vou morrer quando chegar em 'Do you love me' (que também consta em um dos cds)...

Iron Man: Black Sabbath - Não tem muito o que dizer né? Para mim, a existência do Black Sabbath já valeu por essa música. FODA!

Cadê você: Odair José - É mais forte do que eu. Gosto das músicas dele e ponto
Tem gosto pra tudo nesse mundo, não é verdade minha gente?
Ah, é claro que também tem 'A noite mais linda do mundo' no cd.

Naked girl falling down the stairs: The Cramps - Nem lembro mais como e quando virei fã da banda. Só sei que agora não vivo sem e que sonho com um show deles no Charcot em um futuro próximo.

Isso foi uma pequena mostra.
Agora imagine as outras 40 músicas que eu distribuí nos dois cds!
Total Notionless!


Beijão Cleópatra!

sábado, 1 de dezembro de 2007

Me encontra



Adoro sentar na parte de trás do
ônibus (do tipo que tem aquela
sanfona no meio, ligando os dois carros)
e observar a parte da frente
quando ele faz a curva.

Adoro sentar no primeiro banco do trem
e observar os trilhos e a paisagem, pela janela,
quando ele faz a curva.
Sempre quis, por isso, andar na
cabine do maquinista.

Não gosto de andar de barco.
Nunca andei de avião.
Adorava andar de carroça,
mas agora meu avô a desmanchou
por que ele não quer mais criar bois.

Gosto de caminhar quando
não tem sol durante a primavera
(por que tem muitas árvores floridas)
e aquele ar que só eu reconheço
sopra e eu respiro ele, bem feliz.

Então, mesmo se um dia eu fugir,
será fácil me achar.



* Imagem: Detalhe de "La ciudad adormecida", de Jorge Macchi. Fotografia de Néfer Kroll.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Nicholas era...


mais velho que o pecado e sua barba não podia ficar mais branca. Ele queria morrer.


Os anões nativos das cavernas do Ártico não falavam sua língua, mas chilreavam na deles e realizavam rituais incompreensíveis quando não estavam trabalhando nas fábricas.


Uma vez por ano, forçavam-no, aos prantos e sob protestos, pela Noite Sem Fim. Durante a jornada, permaneceria ao lado de cada criança do mundo, deixando um dos presentes invisíveis dos anões ao pé da cama.


As crianças dormiam, congeladas no tempo.


Ele invejava Prometeu e Loki, Sísifo e Judas. Seu castigo era mais sombrio.


Ho.
Ho.
Ho.


Nail Gaiman

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Macarrão verde-amarelo




Ai galera, nunca botei uma receita aqui, e como o objetivo do blog é também falar de gastronomia aqui vai a receita do macarrão vegano que acabei de inventar.
Antes que vocês venham cheios de preconceito contra comida vegetariana vou logo dizendo que esse macarrão é incrível, até eu me surpreendi.

Ingredientes:
  • 1/2 kg de espaguete de sêmola.
  • 1 xícara de feijão de soja (soja em grão)
  • 1 lata de ervilha
  • 2 cebolas
  • óleo
  • manjericão
  • páprica picante em pó


Primeiro tem que fazer o feijão de soja. O procedimento é o seguinte:
Ferva 3 xícaras de água. Com a água fervendo jogue o feijão de soja para dar o choque térmico, antes de ser lavado, e deixe ferver durante 5 minutos.
Depois lavar o feijão de soja em água fria, e tirar as casquinhas dos grãos. Isso é um saco, é verdade, mas é preciso, não esqueçam de tirar as casquinhas senão depois todo mundo engasga com elas e morre! auhauhahua brinks!!!!
Volte com a soja para o fogo e deixe ferver por 30min.
Refogar 1 cebola e tempero à gosto, eu fiz só com cebola e uma pitada de páprica picante.
Misturar o refogado da cebola com a soja e deixar ferver por mais 30 min mais ou menos.
E não esqueçam de ficar de olho, porque a água do feijão seca, ai tem que pôr mais água durante o cozimento.
Pronto, o feijão está pronto, já pode passar para a próxima etapa.
O macarrão.

Façam o macarrão normalmente...
Depois em outra panela refoguem mais uma cebola picada com uma pitada de páprica (com alho deve ficar ótemo também, mas não tinha aqui em casa... Minha mãe parou de comprar alho, não me perguntem porque)
Jogue o macarrão escorrido e misture. Depois acrescente 1 lata de ervilha e o feijão pronto.
Depois de misturar acrescente manjericão à gosto, de preferência logo antes de servir.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Quando tudo era muito mais fácil



Antigamente era assim: se o mocinho estava a fim da mocinha, após muito observá-la , ele a convidava para dançar. Papo vai, papo vem, um drink pago ali , outro aqui, pintava um "clima", e ele pedia o telefone da garota. Ligava no dia seguinte, combinavam um suquinho na lanchonete, beijavam-se e pimba! começavam a namorar. Se você quiser, pode substituir o suquinho por um filme do Antonioni , no cinema. E eram felizes para sempre. Fim.

Hoje em dia é assim: se o mocinho está a fim da mocinha, antes ele analisa friamente se ela é atraente o suficiente ou se não é melhor ele investir nas outras mocinhas ao redor. Se ela for atraente o suficiente, ele vai conversar com seus amiguinhos e ver se eles aprovam a mocinha. Se eles aprovarem a mocinha, o mocinho pede para um de seus amiguinhos "chegar" na mocinha, porque ele tem medo de levar um fora na própria cara. Quando o amiguinho do mocinho chega na mocinha e avisa que o mocinho está a fim dela, ela faz um charminho e diz "aaah peraííí depois você vem aqui e fala comigo, vou pensar , tá?". Esse "vou pensar tá?" pode ser traduzido como "vou perguntar pras minhas amigas se elas não acham o mocinho um babaca vergonhoso" .
Depois das amiguinhas da mocinha aprovarem o mocinho, o amiguinho do mocinho volta a falar com a mocinha e ela diz que tudo bem, que vai ficar com o mocinho. O mocinho chega perto e começa a conversar com a mocinha , papo vai , papo vem , eles se beijam , ficam a noite inteira, com o mocinho e a mocinha procurando olhares de aprovações respectivamente dos amiguinhos e amiguinhas e na hora em que a mocinha vai embora, resta a dúvida na cabeça do mocinho: "peço o celular ou o MSN?" O mocinho, se pedir o celular, planta uma dúvida na cabeça da mocinha: "peço o celular dele de volta ou não?" . A mocinha então pede também o celular do mocinho.
Os momentos seguintes são de uma angústia maior que livro do Albert Camus. O mocinho, voltando da balada, é questionado pelos amiguinhos se vai ligar para garota. Ele responde um "aaahhhh duhhh hummmm... talvez" e seus amiguinhos dizem "aaah você não vai ser otário de ficar com ela né? amanhã a gente vai numa rave que vai bombaaaar de menina" e ele pensa "aaah... ligarei só um dia depois da rave".
Enquanto isso, a mocinha está tendo uma crise de NERVOS em sua casa. ELE VAI LIGAR OU NÃO VAI ELE VAI OU NÃO VAI ELE VAI OU NÃO VAI? Chora, desabafa com as amigas, fica irritada, faz rascunho de 3674638 torpedos , entra num dilema LIGO OU NÃO LIGO LIGO OU NÃO LIGO LIGO OU NÃO LIGO, e , num golpe derradeiro , ela liga para o mocinho no dia seguinte, às 23.30 da noite. O mocinho está no carro dos amigos a caminho da rave:
- Alô?
- Oi mocinho... é a mocinha da balada de ontem. Tá ocupado?
- Tô nada , fala . (música psytrance no último volume ao fundo)
- Tô ouvindo um psy loouuco aí... onde você tá?
- Pô, tô em casa, vou ficar aqui sozinho... fala gatinha
- Então, gostei de falar com vc ontem...
O mocinho percebe que a mocinha não está para brincadeira e que o páreo vai ser duro para se livrar dela. Para cortar logo a onda da menina , ele responde:
- Olha, que tal se a gente fosse amanhã prum barzinho, um cinema , o que você acha?
- Humm... acho legal !
- Então gatinha, eu tô ocupado agora resolvendo umas coisas pra minha vó, mas eu te ligo pra gente combinar , ok?
- Ok! beijo! tchaauu!

A mocinha ficou esperando o telefonema. Adivinha se ele ligou? Nããão. Sabe por quê? O mocinho contou do telefonema pros amigos e eles disseram : "Aveeee menina grudenta , você deu uns beijos nela e ela já tá assim? CAI FORA CARA!".
O mocinho não ligou, e a mocinha ficou louca de ódio, achando que não devia ter ligado para ele.
Um dia, quando o mocinho estava bêbado e encalhado , ele resolve ligar para a mocinha, só de farra, convidando-a para um bar. Com o ego ferido, ela nega o convite. Aí num dia que ela está bêbada e encalhada, ela se arrepende de ter negado o convite. Aí ela pega e manda um torpedo e então bláblálbálbál´bla´blawpjri4jio, o ciclo recomeça, bla´bla´bla´blálb , etc etc etc; Solidão, solidão, pegação, solidão, pegação, encalhamento perpétuo e angustiante.




E depois dizem que a modernidade simplificou as coisas.

domingo, 11 de novembro de 2007

Quem manda nessa porra?



Eu não escolhi viver em um regime capitalista, não escolhi viver numa cidade porca, não escolhi um senado sujo e corrupto pro meu país, aliás, nem sequer escolhi o país em que nasci. Quando garoto, não escolhi ser cristão, mas tive que fazer a primeira comunhão. Não sei se escolhi ter nascido, nem sempre escolhi as pessoas que conheci e outras queria muito ter conhecido, mas não sou eu quem escolhe quem deveria me conhecer. Tive uma sorte tremenda em, algumas vezes, ter por acaso o que não pude escolher, porém, também não queria ter passado por algumas coisas que não escolhi. Ignorance é mesmo blessed, no brain no pain. Qual a graça de viver em um mundo em que a sociedade matou o presente mais divino que recebemos, A VONTADE!

Porra! Eu sei muito bem o que quero, abraço a vida com paixão. Eu quero muitas coisas, vou tê-las, não quero nem saber se estão distantes, afinal, eu não escolhi a distância das coisas que eu quero. Por fim, posso até chegar a não querer mais nada, mas ainda sim, eu quis; pois, sem vontade, a morte é quem te escolhe.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

ENTREVISTA COM MARTHA ARGEL

Um dia, passeando pelos corredores de uma papelaria descobri um livro de capa negra, pequenino, chamado O Livro dos Contos Enfeitiçados.
Foi um golpe de vista tão bem dado que acabei levando o livrinho pra casa, incucada com o seu conteúdo. Como era uma tarde chuvosa e eu teria bolinhos de chuva para o jantar, aquela leitura caía como uma luva. Não é uma coincidência?
Como pude comprovar, após alguns bolinhos nervosamente devorados, os contos enfeitiçados eram deliciosos, intrigantes, assustadores!
Várias chuvas, sóis, noites e dias se passaram e - não é uma coincidência? - acabei topando novamente com a autora daquele livrinho e descobri que ela é tão intrigante quanto os seus contos.
Confiram a nossa entrevista com Matha Argel!



Saraûaîa - É possível existir, em um país com uma diversidade cultural tão grande como o Brasil, uma mitologia própria forte e consistente?

MARTHA - Não tenho nenhuma formação humanística, e sou leiga total no assunto, mas acho que existem no Brasil não apenas uma, mas múltiplas mitologias próprias, autênticas e palpáveis, justamente por conta da diversidade das nossas raízes. Me parece, porém, que elas não são valorizadas como mereceriam. Falta informação sobre e elas e acho que falta aproximar nossos seres fantásticos, nossas lendas e tradições, do grande público.


Saraûaîa - Você acredita em resgate cultural? Se tal resgate acontecesse com êxito no Brasil, isso poderia contribuir com conteúdo para produções literárias? (Você acha isso necessário?).

MARTHA - Como já disse, não tenho formação em ciências humanas. Assim, como leiga, tenho imensa dificuldade em encontrar boas fontes de pesquisa sobre folclore – quase tudo o que encontro parece cópia de Câmara Cascudo e Monteiro Lobato. Fica difícil usar nosso folclore como matéria-prima tendo acesso apenas a material de segunda mão.
Minha solução é manter meu próprio arquivo de lendas e mitos, com material recolhido em entrevistas com moradores locais, durante minhas viagens como bióloga. Já reuni muita coisa que nunca vi em livros, e isso me deixa desconcertada – não há pessoas que trabalham profissionalmente com o registro da cultura popular (no sentido estrito da expressão)? A falta de informação deve atrapalhar muito outros escritores interessados pelo assunto, que não podem recolher seu próprio material in loco.


Dani Chinaski - Como uma doutora em Ecologia e especialista em aves brasileiras foi se tornar também escritora de literatura fantástica? Como surgiu o interesse e a decisão em ser autora de contos fantásticos?

MARTHA - Desde criança eu escrevia e sabia que seria zoóloga. Não sei se foi “uma decisão” virar escritora. Sempre escrevi para mim, porque tinha vontade e gostava. Escrevia crônicas, histórias engraçadas e aventuras. Com uns quinze anos escrevi até um livro, com perseguições, seqüestros e espiões internacionais. Enquanto cursava a graduação em Ciências Biológicas criei um mundo povoado com espécies fictícias, que eu “construía” usando o que aprendia nas aulas de anatomia, fisiologia e ecologia. Quando estava na pós-graduação, com alguns colegas criamos uma revista, a Forneria, com artigos científicos de gozação. Só saíram dois números, mas a gente se divertiu muito.
Nesse tempo todo, escrevi um ou outro conto de ficção científica, e um deles até saiu publicado, mas a verdade é que não tinha nenhum plano de “virar” escritora. As únicas publicações que levava a sério eram artigos científicos.
Mas então aconteceu algo curioso. Eu estava na reta final do doutorado, farta da vida acadêmica e de quase 20 anos de universidade. Acordei de madrugada e sentei-me na frente do computador, desesperada com a tese que não terminava nunca, mas em vez de trabalhar nela me veio na cabeça uma história de horror, justamente sobre um pós-graduando que está por terminar sua tese e acaba sendo atacado por uma criatura horrenda no meio da noite. Escrevi o conto inteiro na mesma noite (embora tenha passado depois oito meses consertando-o), e daí em diante não parei mais.
Mas ainda assim eu não cogitava publicar nada do que estava escrevendo. Uns dois anos depois, uma amiga me colocou em contato com uma editora virtual. Mandei um conto e a resposta foi um convite para publicar um e-book, que naquela época era novidade. Foi a primeira vez que me chamaram de escritora! Achei esquisitíssimo, aceitei, e foi assim que me vi autora de literatura fantástica. Meu primeiro livro acabou saindo antes que eu defendesse o doutorado.
Para mim, a ciência e a literatura fantástica têm muita coisa em comum. Tanto uma teoria científica quanto uma história partem de uma especulação – você pega algum fato bem corriqueiro e analisa de uma forma totalmente inesperada, perguntando-se e se isto fosse diferente? Essa pergunta e se...? é o ponto de partida tanto para a hipótese científica quanto para a criação fantástica.


Dani Chinaski - Você e a escritora Giulia Moon são responsáveis pela FicZine (Pra quem não sabe ou conhece, é um fanzine dedicado à Literatura Fantástica). Como surgiu a idéia de fazer esse trabalho e como conseguiram viabilizar o projeto?

MARTHA - A idéia nasceu quase como uma brincadeira. Estávamos com vontade de escrever alguma fanfic (ficção de fã) sobre um seriado de tevê que ambas adoramos, Highlander. Então pensamos em fazer um zine. Convidamos um amigo, escrevemos, diagramamos, batizamos de Número Zero, imprimimos e fizemos cópias xerox, que levamos para um evento. O pessoal gostou da idéia, e os elogios à qualidade do material nos incentivaram a aprimorar o material. Deixamos de lado as fanfics e a cada número sai um conto de cada uma de nós, mais um terceiro de algum escritor convidado. Sempre que possível, convidamos algum artista para fazer a capa. Por exemplo, o quadrinhista Emir Ribeiro e meu irmão Billy Argel, que é artista plástico, já apareceram na capa do zine. A Giulia trabalha em publicidade, de forma que a diagramação sempre foi de nível profissional. A partir do número 1, passamos a imprimir em gráfica, o que deu uma cara muito bacana à publicação. Não é por ser artesanal que um zine precisa ser tosco!
E, claro, o que torna possível levar adiante o projeto é a colaboração de todos os amigos que enriquecem o conteúdo com seus textos e sua arte, e ajudam na diagramação, na revisão, na ilustração, na divulgação e em todas as tarefas de bastidores.


Dani Chinaski - Quais são os maiores desafios que vocês enfrentam para manter esse projeto vivo? E como os nossos leitores podem ter acesso ao FICZINE?

MARTHA - Nós não abrimos mão da qualidade total do FicZine, e assim a produção de cada edição é bem demorada. O maior desafio, sem dúvida, é a falta de tempo. A idéia original era lançar dois números por ano, mas tanto a Giu quanto eu andamos tão atarefadas que mal conseguimos lançar um.
As edições podem ser baixados, em formato pdf, tanto no site da Giulia (www.giuliamoon.com.br) quanto no meu (www.marthaargel.com.br).






Matheus - Os mitos foram criados como uma forma para explicar o desconhecido pelos nossos ancestrais. Queria saber da autora qual é o espaço da literatura fantástica atualmente com o desenvolvimento da ciência e crescente ceticismo da população.

MARTHA - Muito pelo contrário, a população não pratica o ceticismo; os céticos questionam o que têm diante dos olhos, e o que se vê entre a população, independente de seu nível sócio-econômico ou cultural, é a aceitação de tudo sem questionamento, com credulidade e passividade assombrosas. Ou seja, o oposto do ceticismo.
É a ausência da cultura científica que gera essa credulidade. Sem qualquer noção quanto às leis que regem a natureza, as pessoas se tornam propensas a acreditar que o mágico, o sobrenatural e o milagroso são perfeitamente possíveis e normais.
Falta ciência em todos os níveis em nossa população. Em teoria, qualquer instrumento seria válido para aplicar a educação científica. Eu particularmente uso a literatura fantástica como uma forma de expressar meu sólido pensamento científico, mas para ser sincera esse é apenas um “efeito colateral” da arte que produzo; não creio que seja a forma mais eficiente de fazê-lo.
Ciência se desenvolve com professores mais capacitados, mais valorizados e melhor formados, e com uma grande dose de atenção e tempo investidos na formação de cada aluno.
A maioria dos escritores de literatura fantástica que conheço não tem formação científica suficiente para embutir ciência em seus textos. Assim, é melhor que nem tentem. Produzam arte para entreter as pessoas e enriquecer suas vidas. A arte em si é uma finalidade perfeitamente legítima para um escritor.
Enquanto isso, vamos tentando melhorar a ciência neste país por meio da luta por um ensino decente.


Regis - Na sua opinião, se o público conhecesse os morcegos e seu sistema de vida, seus hábitos, isso poderia desgastar um pouco o fascínio que esse animal traz à Literatura fantástica?

MARTHA - Acho que não. Primeiro que não necessariamente a ficção deve ater-se aos fatos. Ficção é arte, e o artista tem a liberdade de recriar o universo como bem entender (se o leitor vai gostar ou aprovar, são outros quinhentos).
Além disso, a biologia das diferentes espécies de morcegos é tão variada, tão interessante, que poderia ser bem o contrário: a ficção poderia ser enriquecida com detalhes da derivados da zoologia. Eu curto muito descobrir que um determinado autor tem um conhecimento profundo sobre algum tema, e o utiliza em seu texto. Autores que fazem isso, sem parecerem arrogantes ou pernósticos, crescem em meu conceito.


Dani Chinaski - A figura do morcego, marcado por ícones da literatura e cinema, como Drácula e Batman, acabou lhe conferindo uma aura de mistério. Em sua opinião, existe alguma ave brasileira que tenha o poder potencial de, um dia, se tornar tão instigante quanto o morcego que simboliza personagens tão marcantes?

MARTHA - O mistério evocado pela figura do morcego é muitíssimo anterior à cultura de massa. Diversas civilizações atribuem papéis sobrenaturais ou divinos aos morcegos, há milhares de anos, no mundo todo, em função de sua existência noturna e por sua perturbadora aparência de “rato voador”.
A urbanização cada vez mais marcada da população mundial tirou muito da força que os elementos naturais tinham como ícones. Hoje em dia, é muito mais provável que os símbolos nasçam dentro de um contexto estrito da cultura humana do que a partir da natureza.
Não vejo, infelizmente, como aves ou outros animais podem competir no imaginário popular com elementos tipicamente urbanos. É com eles que a esmagadora maioria das pessoas convive todos os dias, e não com as paisagens e organismos que compõem nossos ambientes naturais. Eu até estou convencida que uma parte das pessoas, em especial aquelas que já nasceram na era do computador, sequer enxerga o mundo que há para além das relações humanas. O resultado de tudo isso? A apatia ampla geral e irrestrita frente à destruição de nosso patrimônio natural. E acredite: a coisa já não tem mais volta.

Queria agradecer a todo o pessoal do QueLegal Zine pelo interesse por meu trabalho e por ter me convidado pra este bate-bola.
Valeu, gente, continuem pensando, questionando e agitando, que atitude é uma coisa que hoje em dia está em falta. Adorei vocês!
E aí vão meus links:

Página: www.marthaargel.com.br
Lista de distribuição de notícias: http://br.groups.yahoo.com/group/MarthaArgel/?yguid=231285329
Multiply http://marthaargel.multiply.com
Orkut: http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=7459065148637037508
Blog: http://vampirapaulistana.blogspot.com

beijos
Martha Argel

FIM.


Agradecemos imensamente a presença da autora Martha Argel na nossa QUELEGAL Zine!
Esperamos que vocês tenham gostado e curtam o trabalho dessa autora fantástica!

Dani. Chinaski

5 Filmes em Preto e Branco essenciais:

1 – Crepúsculo dos Deuses (1950, Dir: Billy Wilder)


Confesso que tinha um “irc”, acompanhado de bocejos, quando o assunto se tratava de filmes antigos e foi Crepúsculo dos Deuses o responsável de não só acabar com esse preconceito meu, como me instigar a procurar mais pérolas entre os considerados clássicos do cinema. Uma característica que os (bons) filmes mais datados possuem é a de se apoiar com força em um roteiro bem estruturado e atuações marcantes, não dependendo de efeitos digitais de ultima geração ou atores que só figuram na tela por venderem mais notícias aos tablóides. E este filme exemplifica tudo isso com louvor, a trama do roteirista que se envolve com uma decadente atriz do cinema mudo com o objetivo de deslanchar sua carreira, mas que acaba se vendo aprisionado no ego de uma diva surtada é muito bem engenhado e cada cena tem importância no desenvolvimento da trama, não ficando nada solto para trás. A atuação de Gloria Swanson é espetacular, e a atriz, que possui algumas características em comum com a própria personagem, rouba cada cena em que aparece, criando situações que variam do deslumbre a pena, criando uma Norma Desmond cheia de si e sem nenhuma noção da realidade que a cerca. O jogo de interesses e a sensação de desastre iminente acompanham o filme inteiro e faz de Crepúsculo dos Deuses um retrato do mundo do cinema que permanece relevante até os dias de hoje.

2 – A Malvada (1950, Dir: Joseph L. Mankiewicz)



A Malvada possui várias semelhanças com Crepúsculo dos Deuses, também se passa no mundo das estrelas, são do mesmo ano, levou o Oscar a que o outro estava concorrendo e possui uma outra atriz foda: Bette Davis. Mas ao contrário do filme anterior em que os personagens se perdem dentro de suas ilusões, os personagens deste filme estão muito cientes do que desejam e dispostos a tudo para alcançarem seus objetivos. A Malvada do título pode-se referir tanto a Eve, aspirante a atriz que se infiltra entre os poderosos da área para alcançar o estrelato como para Margo Channing, atriz veterana e admirada que trata a todos com completo desdém, sem se importar se está sendo grossa ou ferindo os sentimentos dos outros. Eu, particularmente, tenho uma fraqueza por personagens fortes e venenosas, e Bette Davis está incorporando tudo que eu mais gosto: ela pisa, cospe nos outros, destila veneno, toma seu dry-martini e sua redenção vem com o auto-conhecimento e não com uma mudança patética para uma versão mais boazinha e chatinha. Isso mesmo Bette Davis, continue humilhando todos os seres inferiores a sua volta que é o que você faz de melhor, e nós adoramos

3 – Manhattan (1979, Dir: Woody Allen)



Deixamos o mundo das estrelas para trás e vamos nos focar em nós: meros mortais. Woody Allen nesse filme trata dos relacionamentos nos tempos modernos, e mesmo com quase 30 anos continua completamente atual. Mostra pessoas que se cruzam e se perdem dentro das inúmeras opções que encontramos na grande cidade. Nós achamos alguém que nos faz bem, mas permanecemos com a dúvida de que se não existe alguém melhor solto por aí, alguém que não possua certos defeitos que nos irritam, mas que com certeza trará outros inúmeros obstáculos para atrapalhar a relação. Aliás, os obstáculos são os que mais aparecem no filme: incompatibilidade de idade, de opção sexual, de gosto cultural, paixões por namoradas de amigos, brigas com ex-namoradas. Afinal o namoro atualmente tem a função apenas de suprir nossos desejos afetivos e sexuais ou deve se aprofundar mais para uma compatibilidade entre almas, que pode ser alcançada com uma amizade, por exemplo? Essa é uma dúvida que Woody levanta, mas não responde, pois assim como nós ele não faz idéia da resposta (vamos combinar né gente? Quem acompanha sua vida pessoal sabe bem disso).O melhor é ir tentando até ficarmos em paz com nossos e seres amados e torcer para que nossos desejos não nos traia novamente.

4 – Asas do Desejo (1987, Dir: Win Wenders)



O preto e branco marca uma presença muito mais imortante neste filme: separa o mundo contemplativo e ideológico dos anjos com o mundo colorido e cheio de emoções e desejos dos mortais. É um filme puramente poético, daqueles que não se deve assistir apenas para entretê-lo durante 2 horas, e sim para pensar, vivenciar, tirar lição e admirar. É um filme com poucos diálogos e muitas idéias, os anjos circulam pelos humanos e vão trocando os pensamentos que escutam como quem troca as estações de rádio. A questão básica do filme, que é trocar a eternidade do mundo espiritual por uma existência mais curta e intensa abre margem para outros inúmeros questionamentos existências que não serão repetidos a exaustão, e cabe ao expectador abraça-los ao não. Fotografias e locações belíssimas completam o pacote para tornar esse filme uma experiência inesquecível tanto visualmente quanto intelectualmente.

5 – A Lista de Schindler (1993, Dir: Steven Spielberg)


O diretor-símbolo do cinema pipoca de grandes bilheterias e efeitos especiais fez desse trabalho sua obra mais intimista e sentimental. Aqui o objetivo não é te transportar para um mundo mágico e te fazer sonhar com todas as maravilhas que aparecem na tela. Esse filme quer te ferir, te fazer sangrar e eliminar suas esperanças de que vivemos em um planeta que possa chegar à perfeição. O tema da 2ª Guerra Mundial já foi abordado à exaustão em outros filmes, no colégio, livros, documentários da TV... Mas se sobrou alguma curiosidade com o tema e se você ainda não o viu, assista a esse filme sem receios. O diretor utiliza o preto e branco para poder utilizar de cenas da época, o que ajuda ainda mais a demolir a aura de obra ficcional do espetáculo. Todos sofrem, todos choram e se você não se comover em nenhuma cena durante o filme inteiro ligue já para um psiquiatra, pois algo não vai bem com suas sinapses nervosas. As atuações são contidas e passam longe do melodrama, em especial Ralph Fiennes encarna o perfeito “filho da puta”, daqueles que você tem vontade de cair na pancada se encontrar na rua. E não deixe de notar a única cena colorida do filme, de rasgar o coração

domingo, 4 de novembro de 2007

Outlines





O importante é que eu diga escreva o que a voizinha na minha cabeça diz (o nome dela é Morgs, mas eu tenho meu alter-ego que é a Samanta, ela fora descoberta por uma professora).

Eu não paro de pensar. Óbvio, não? Mas eu não penso no que eu vou comer no almoço ou como vai ser o bofe lindo da minha vida, eu penso. Em casos até filosofo. Mas no fim eu sempre esqueço do que se passou pela minha cabeça, penso tanto que todo mundo acha que eu sonho acordada, estou apaixonada ou com algum problema. Seria problema pensar tanto?

Sabe, hoje voltando de Salvador no carro apareceu a incrível idéia/desculpa de que a minha memória é confusa. As minhas lembranças são como filme, sempre vistas de um ponto inexistente, já que quando se vê um filme os atores (as pessoas das minhas lembranças) não olham pra câmera, e dificilmente o filme se passa através dos olhos do protagonista (eu). Quem sabe a minha mente sempre fértil impediu que a minha memória sobre os fatos reais trabalhasse.

Como isso foi possível eu não sei, pode até ser que na minha visão o real é chato, maçante e repetitivo. Pode ser que uma vida fantasiosa é mais divertida e menos problemática. Seja o que for, eu tento contornar a situação com o material, fotografias se tornam a minha memória, mesmo que de um ângulo mais favorável para mim.



PS.: Sem querer o texto falou sobre fotografia, assunto repetitivo meu. Mas foi sem intenção, juro.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Garota carioca, swing sangue bom.

Liz Larner e seu café-da-manhã


Eu queria ser saudável, sabe? Ser daquelas pessoas que acorda 6 da manhã pra correr e depois dar um mergulho na praia. Ter o corpo sarado e bronzeado, menina carioca sangue bom. E se desse ainda ia querer aprender a surfar.
Acho tão bonito quem acorda e toma o café da manhã acima, amêndoas, frutas e um suquinho verde. Mas quem toma suco verde? VERDE, SÓ SE FOR DE KIWII!!!!!
O fotógrafo J. Huck fez uma série de fotos de pessoas e seus respectivos cafés da manhã e é muito engraçado ver a cara das pessoas e o que elas comem. Tem de tudo. Feijão à burrito. Mas as pessoas mais bonitas são mesmo aquelas que comem coisas aparentemente saudáveis. Ou então os viciados em café, que são sempre bonitos.
Vocês podem ver as fotos aqui
Mas eu fico pensando, como é difícil ser saudável. Como largar a cervejinha do final de semana, e do dia de semana também? Como abrir mão daquela Gin Tônica refrescante no meio da noite? Daquele Gin Fizz, Tom Collins, Vodka com Redbull, Tequila com redbull, Tequila sunrise...
Como abrir mão de virar a noite dançando e na hora que as pessoas saudáveis, aquelas que eu adimiro tanto estão saindo pra sua corrida matinal, você ta saindo da buatchy, com a sandália na mão e indo na praia tomar uma água de coco porque dizem que é bom pra curar ressaca... E depois ir pra casa dormir até meio dia? Isso quando você não vai de uma buatchy pra outra curtir um after!
Como abrir mão do chocolate?
Não da pra abrir mão disso tudo, é muito difícil...
Alguém me ensina a ser saudável? Meu horóscopo disse que está na hora de mudanças e de cuidar bem da minha saúde.

Uma ilustração, seu título e uma profecia.

A coisa mais difícil do mundo é ser uma pessoa verdadeira.
O jogo da vontade aniquiladora
Encantados com a superfície da maquiada desgraça,
Cairão em torpor devido à paixão de Usara.
Escorados por máquinas de vontade,
Fome e desejo não sentirão, só o nada.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Porque você precisa amar Wander Wildner



Existe um cara, com voz rouca, meio ébria, que canta um bregapunk de primeira , romântico e revoltado, triste e empolgado. Seu nome é Wander Wildner.
Não estou recebendo nenhum cachê do rapaz pra fazer propaganda dele (quem me dera!) mas o fato é que ele me impressiona a cada dia que passa. Até mamãe já ouviu e achou que ele tem um quê de Raul Seixas. Enfim, ele é o máximo.
Afinal, que outra pessoa cantaria sobre a vida crua da cidade grande como ele canta? Quem retrataria São Paulo e a Consolação tão bem como ele retrata? Quem falaria da vida noturna do centro de SP , de suas angústias e atribulações, tão intensamente como ele? Quem falaria algo tão lindo do tipo "se pudesse estaria ouvindo o seu coração..."? Só ele. Wander. Wildner.
Wildner; Wander é talento. Ele consegue escrever músicas fossa e músicas anti-fossa.

Fossa clássica: BEBENDO VINHO
Eu vivo sozinho e apaixonado não tenho ninguém aqui do meu lado
Meu cachorro Vênus foi roubado, fiquei um pouco preocupado
Vou me entorpecer bebendo vinho, eu sigo só o meu caminho
Vou me entorpecer bebendo vinho, eu sigo só o meu caminho


Anti-fossa clássica: ADEUS ÀS ILUSÕES
Sei bem não fui teu príncipe encantado
você tão pouco foi minha bela adormecida
Por tempo foi bom pensar que tudo isso
podese ser eterno como num conto de fadas


Wander é bregapunk sentimental e revoltado. Ele é fã de Waldick Soriano e tem todos os discos dele! Quer mais charme que isso? Ele tem uma rede no meio da sala! Quer mais charme que isso? Ele faz show nas baladas e é super simpático com todo mundo, e se esbarra de levinho em você, pede mil perdões. Quer mais charme que isso? Ele veste camisa estampada de cetim e tá luxo. Quer mais charme que isso? Ele às vezes aparece no CB só pra tocar Iggy Pop a noite toda. Falando em Iggy, ele é bem o que li uma vez num texto que uma moça escrevia : "Wander é daqueles tipos de cara à moda antiga pelo qual as meninas se derretem - aquele que encera o carro vermelho no domingo, ouvindo Iggy Pop o dia todo".

Wander é isso e muito mais. Tudo na música dele vale a pena.
Wander , eu tenho uma camiseta escrita EU TE AMO!

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Top 5 - Música e dança

Para começar a semana decidi fazer um top 5 que faz tempo que não rola por aqui.

Adoro cinema, me esbaldo assistindo filmes diversos mas é raro eu gostar de um musical. Na maioria das vezes acho chato e uma vez eu quase chorei de tristeza com um deles (Moulin Rouge). Mas eu gosto de cenas de dança em filmes e tenho uma lista imensa das minhas favoritas. Mas como aqui é um singelo 'top 5' fiquei com as cenas de dança que me fazem rir, por causa da dança e da música também.


Robin Hood - Men in Tights


Life of Brian - Always Look On The Bright Side of Life


Mary Poppins - Supercalifragilisticexpialidocious


Grease - Summer nights


Napoleon Dynamite - Canned Heat



Que legal!

domingo, 14 de outubro de 2007

O que estou escutando agora agora


Irei oficializar com esse nome, um espaço para escrever sobre os sons que venho escutando, desde novidades e descobertas a clássicos que estão sempre na minha playlist. Já tinha feito isso no post “Momento NME”, mas o nome ficou muito crítico musical hype wannabe, e nada melhor do que fazer referência a um dos tópicos da comunidade “Que Legal” mais clássicos para batizar este espaço.

New Divas Assim que estão sendo chamadas o grupo de cantoras que vem recebendo múltiplos elogios de críticos e público e que é por composto por Bjork, Cat Power, Feist, PJ Harvey, dentre outras. Destas, as 3 primeiras vem recebendo muita atenção no país por serem atrações do Tim Festival (que provavelmente não irei e estou pra morrer por causa disso). Diferentemente das divas dos anos 90 que depositavam sua fama no laquê e em canções em que se comunicam com golfinhos, essas novas artistas chamam atenção pela crueza, originalidade e um leve toque de glamour.
O ultimo trabalho de Bjork “Volta” foi considerado um retorno a um som mais pop e acessível, só se comparado, claro, a seus últimos trabalhos mais experimerimentais. Confesso que não sou muito fã da cantora, mas não há como não admirar seu imenso talento em transformar qualquer barulinho em arte.
Cat Power é dona da melhor trilha sonora para se abraçar o bueiro. Chan Marshal (seu nome verdadeiro) é depressiva, já tentou suicídio e é detentora do estilo “fossa” na veia. Seu ultimo CD “The Greatest” entrou em praticamente todas as listas dos melhores do ano passado e com louvor. Destaque para faixa título, “Could We”, “Islands” e “Lived in Bars”. Compre uma garrafa de gin, baixe as musicas da cantora e mande ver!
Feist é o mais novo fenômeno da música pop. A cantora que já foi vocalista de uma banda punk agora faz um som mais tranqüilo e com uma levada pro jazz. “1,2,3,4” caiu nas graças do grande público em massa depois que foi trilha sonora da propagando dos I Pods coloridos e possui um clipe que deve ser conferido. “My Moon, my man”, “I Feel it All” e “Mushaboom” são mais músicas da cantora que brilham no meio de tantas faixas boas.
PJ Harvey é queridinha do povo indie e tem uma longa carreira com altos e baixos. Seu novo trabalho “White Chalk” fica no meio termo, tem uma sonoridade bonita mas não é muito empolgante. Se tiver num clima mais tranquilinho escute “When Under Ether” e “The Piano” e não se arrependerá.
Radiohead A banda mais poderosa da música atual e provavelmente a única que possui moral de fazer o que der na cabeça inovou mais uma vez em disponibilizar seu novo álbum “In Rainbow” na internet, cobrando de quem baixar o álbum a quantia que a pessoa bem quiser. O CD vai bem na linha do ultimo trabalho de Thom Yorke “The Eraser”, com um sonzinho quase estilo lounge, o que é bom, mas dá uma saudade do Radiohead genial e comovente de “Ok Computer”. “All I Need” e “House of Cards” são as melhores que estão tendo.
The Knife Quem curte música eletrônica não pode deixar de conferir essa banda genial. Os vocais exóticos e batidas enigmáticas criam um som pegajoso e único que cai bem pra ouvir em casa, na balada ou na acdemia. Ano passado a banda lançou o disco Silent Shout que possui pérolas como “We share our mothers health”, “Like a Pen”, “Marble House” e a faixa título. Não deixe de conferir também “Heartbeats” de seu disco anterior “Deep Cuts” e que é uma versão de uma belíssima música de José Golçalvez, artista que eu não escutei muito ainda mas parece ser muito talentoso também. Agora para de ler isso e vá confirir as músicas logo!! Já!!

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Cartas na mesa



Ei, eu me lembro de você.

Eu me lembro de você. Lembro de você atravessando a calçada e me sorrindo. Lembro do seu cigarro e do seu chiclete de menta, e do sopro do fumo que você soltava rindo. Quando a gente andou entre aqueles prédios, eu lembro de você ter dito que queria um café. E a gente se enfiou num cubículo qualquer cheio de poltronas, nos entregando a uma conversa cafeinada e sincera. Eu me lembro quando você ficava uma fera.
E a gente imaginava festas e grandes eventos sociais que poderiam rolar desde pracinhas desertas a museus nacionais. A gente tinha tantas idéias!
Sim, eu me lembro de você. Dos dois primeiros botões de camisa que você nunca abotoava, das mesas que você riscava, da tatuagem que você nunca fez. Eu me lembro!
Eu me lembro de nós dois embaixo da chuva, andando encharcados, porque correr não adiantava mais. Eu me lembro de nós dois nos despedindo e você olhando para trás.
Quando você apontava um passarinho na rua, eu sempre olhava rindo. Porque você gostava dos gatos pretos e queria adotá-los todos. Porque você sempre foi você.

Sim, eu me lembro daquele dia em que você me ligou, e num momento , tudo se apagou. Você disse , no bocal do telefone, que ninguém gostava de você. Que você era sem graça. Que você era substituível. Você disse : "Eu sempre te contei coisas e nem sei se você gostou. Acho que é só por educação que você sorri. Você é a pessoa que eu perdi."

Ah, eu queria te mostrar o livro do Tempo, o livro da Verdade Infinita e Incontestável para te mostrar que quando você chorava, eu chorei, o que você amou , eu amei, e quando você contava piadas, eu ri , rindo as risadas mais sinceras e escancaradas. Pela sua alegria eu ri . Pelo chiclete, pela chuva e pela sua xícara de café , eu sempre, sempre ri.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Os ideais não mudam

Ontem, numa aula de ciência política, eu ouvi do meu professor que nós estamos numa faculdade de direito pra aprender a ter opiniões bem fundamentadas, e também para mudar de opiniões.

Uma aluna ousou discordar dele e disse que jamais mudaria sua visão política, e ele insistiu que assim não se era completo, que deveria se estar apto a mudar sua visão no momento em que se visse que ela não era a correta.

Como assim “correta”?! São os ideais da pessoa, não é um texto que vai fazê-la mudá-los, por mais embasado e convincente que seja este texto.

No momento em que tu solidifica teus ideais eles são pra vida toda, afinal são teus ideais, são as coisas em que tu acredita, é a tua opinião sobre determinado assunto, isso não muda simplesmente por ter lido algo bem fundamentado.

Recentemente tive a oportunidade de ler ‘O caso dos exploradores de cavernas’ onde cinco juizes dão seus votos sobre a condenação ou não dos espeleólogos por terem cometido homicídio e comido a carne do que foi morto, para sobreviver. Desde antes de ler o livro eu já sabia sobre o que se tratava, e eu já tinha uma opinião formada, de que os exploradores jamais deveriam ser considerados culpados, afinal eles estavam numa situação de vida ou morte, era uma situação adversa, onde não valem as leis de onde tu mora e sim as leis naturais que tu mesmo cria através de contratos firmados. É a lei da natureza, é o que se chama de direito natural, jusnaturalismo.

Ler o livro só me fez ter uma opinião mais fundamentada, e nisso eu concordo com o professor, estamos cursando esta faculdade para que possamos ter base para que nossos argumentos sejam bons, mas apesar de ter visto dois votos e meio contrários a posição que eu aceito como correta, e estes votos eram muito bem fundamentados e inclusive criticavam – e muito – o voto que eu aceitei como o que mais se encaixava com o meu pensamento, em momento algum eu pensei em mudar de opinião, por mais criticada que ela tenha sido durante o livro inteiro, afinal é a minha opinião, é o que eu penso sobre o assunto, isso não muda simplesmente lendo uma opinião contrária, porque não há nada que prove que a minha opinião está incorreta, apesar dos argumentos usados para tentar provar que o voto do juiz com o qual me identifiquei era mal embasado.

Ideais não mudam, e se mudam é porque a pessoa tem a cabeça muito fraca.

domingo, 7 de outubro de 2007

Transgredindo e vivendo


Logo que nascemos, damos o primeiro choro que marca o início de nossas vidas fora do útero materno, e sem sabermos somos automaticamente inseridos numa série de regras e convenções sociais que todos seguem, muitos sem nunca questionar ou se perguntar a razão de existirem. Talvez se nascêssemos com a consciência deste fato nosso choro seria mais doloroso e prolongado.
Não comer biscoito antes do almoço, dormir antes das 22 horas, não responder pai e mãe, ir para escola, estudar para prova para passar de ano, acreditar numa religião, votar obrigatoriamente nas eleições, fazer vestibular, trabalhar, casar e formar uma família... Vamos seguindo nossas vidas num curso que a sociedade prega ser o correto e muitas vezes sofremos e nos esforçamos para alcançar algo que nem ao menos sabemos se é o que queremos para nós mesmos. No entanto, toda essa alienação social proporciona uma das sensações mais maravilhosas que podem ser experimentadas em vida: romper as regras.
É algo completamente satisfatório e pleno, que melhor traduz o estado de liberdade e para poder vivenciar esses momentos toda uma vida pode ser justificada. A diretora mala do colégio fala que é errado, a Bíblia condena, geralmente existe alguma forma de castigo implicado no processo, mas isso tudo torna o ato de transgredir ainda mais emocionante e satisfatório. É o nosso ser, nossa vontade se manifestando acima de qualquer obstáculo, uma prova que conseguimos alcançar a felicidade se não nos reprimirmos e mantermos a mente aberta.
Em tempo: tenho vontade de quebrar com um soco o vidro que dispara o alarme de incêndio do prédio, de roubar o DVD que está tão caro na loja, de sair do bar sem pagar a conta, de ir para a aula de pediatria bêbado, de passar com um trator por cima de todos os carros no engarrafamento, de casar sob o som de “Sympathy for the Devil” dos Stones. Tudo isso pode parecer estúpido ou desnecessário, mas quebra a rotina, renova o destino, uma forma de arte em forma de ações.
Essa força é o que inspira as crianças a mentir, os alunos a colar, os padres a transar, os políticos a roubar, os rockstars a se drogar, as esposas a trair, enfim, um tempero essencial para nossas vidas.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

São as galinhas mais felizes que botam os ovos mais gostosos

Saber que o que nos espera no futuro é incerto dá uma dinâmica completamente estranha para uma vida que nunca teve bases sólidas ou apoio estrutural. Ter liberdade para decidir onde afundar o barco, onde padecer perante a carnificina, com quem e como, é simplesmente fantástico e dá à nossa geração de pobres uma oportunidade ímpar de experimentar o que é aproveitar a vida segundo nossos paradigmas já não tão fundados.

A globalização, a extinção das classes sociais, a nova divisão internacional do trabalho e a recém eclodida geração da sociedade técnico-informacional está aí e temos que curtir este momento. A pobreza passou (na verdade ela não passou assim simplesmente, mas vamos considerar que passou) de simplesmente financeira para estrutural. Ela existe e foi muito bem assimilada por todos. Deram a ela o seu devido valor afinal!!! Até que enfim ganhou consciência. Ela deve existir. Não faz sentido enriquecer os pobres, pois se os pobres ficarem ricos, quem serão os pobres? Pois antes disso há todo um sistema de equilíbrio que vai exigir uma compensação ao enriquecimento alheio. Claro, de quem não devia enriquecer. Se quem enriquece é um podre de rico, aí tudo bem.

E como fazer para que os pobres não se sintam pobres? Fazendo os meio pobres se sentirem pobres também, camuflando uma possível revolta dos miseráveis, e colocando classes próximas socialmente lutando uma contra a outra. E com a supressão do espaço-tempo isso fica ainda mais legal!

Viva os telecentros, viva as lan-houses populares. Viva o orkut, o blog e a câmera digital! Vamos padecer, mostrando cada passo dessa investida vertical para o mundo!

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

beijosmeliga.

seu dia esta ruim?
seu carro morreu naquela avenida movimentada?
chegou atrasado no trabalho?
levou bronca do chefe?
derrubou catchup na sua camisa novinha?
levou chá de cadeira no detran?
perdeu a carteira?
roubaram sua senha do orkut, e mudaram seu nome pra "ju taradinha"?
tá com dor de dente?

sua vida anda chata, boba, feia e cara de mamão?

ligue 0800-883-0012, e ouça uma mensagem de fé, coragem e perseverança.

domingo, 30 de setembro de 2007

Shu


O beco está quieto e mal iluminado. O vapor proveniente dos bueiros dificulta a visão e preenche o ar com o odor fétido dos esgotos da metrópole. O silêncio congelante que rodeia o local é quebrado esporadicamente pelos ratos que se esgueiram entre as lixeiras à procura de restos de comida.

Do fundo do beco emana uma luz alaranjada e tremulante. No final deste corredor claustrofóbico se encontra um grande caçamba de lixo, com intensa chamas em seu interior. As grandes línguas de fogo lambem o ar freneticamente, fazendo o pútrido vapor acima das labaredas rodopiar numa dança fantasmagórica.

Próximos à caçamba, escondidos entre as sombras, dois jovens encapuzados observam fixamente as chamas. A penumbra que os rodeia não permite que seus rostos sejam vistos. Na verdade, somente devido ao brilho do fogo refletido em seus olhos podia-se dizer que sob cada capuz existia algum rosto.

Naquele momento os menos afortunados podiam notar uma pequena silhueta, quase hominídea, que pouco a pouco ia se definindo entre as labaredas. A figura se contorcia lentamente, acariciando as línguas de fogo ao seu redor. Os dois jovens observavam extasiados a dança hipnótica do homúnculo. À medida que a dança se intensificava, o reflexo nos olhos dos rapazes ia se tornando cada vez mais opaco e sem vida.

Em pouco tempo, a dança cessou. Agora, já não se pode dizer com certeza que sob cada capuz existe um rosto. Não há mais brilho nos olhos. Dentro de cada capuz, apenas um vazio negro. Vazia também está a caçamba de lixo. Lá não existe mais fogo ou Criatura. Mas Sua presença é inegável. Os fantoches sem rosto semearão Sua vontade e procriarão em Seu nome.

Ele está no meio nós.
..
.
Obs: texto baseado em experiências do autor

My Best Friend


My Best Friend por Hello Saferide

You call me up in the mornings

We’ll stay on the phone until dawning
You tell me secrets I actually keep
You call me up around noon and
Bring me all the good gossip
You hold my head when I throw up
I hold your hand when you weep

And we talk about friends and we talk about records, talk about life and
we’ll talk about death, and we dance in the living room, dance on thesidewalks,
dance in the movies, dance at the festivals, dance, dance
No men ever really dance like this

Damn! I wish I was a lesbian
Damn! I wish I was a lesbian
Damn! I wish I was, and that you were, too
So I could fall in love with you

You call me up in the evenings
And tell me what they did this time
No matter what, I’m by your side
When it’s raining, we’ll go to the video store
We even like the same movies
No damn jedis or hobbits this time

And you laugh at my jokes and I laugh at your jokes and I even like the
birthday presents you get me,and we dance in the living room, dance on the sidewalks,
dance in themovies, dance at the festivals, let’s dance, dance.
No men ever really dance like this

Why don’t, why don’t I fall
Why don’t I just fall in love with you

Tradução

Você me liga de manhã
E nós ficamos no telefone até o entardecer
Você me conta segredos que eu guardo de verdade
Você me liga mais tarde
Me conta as melhores fofocas
Você segura minha cabeça quando vomito
E eu seguro sua mão quando toma um susto

E nós conversamos sobre os amigos, discos, sobre a vida e morte
E nós dançamos na sala de estar e nos passeios
Nós dançamos durante os filmes e em festas, dançamos, dançamos
Nenhum homem nunca dançou tão bem assim

Droga! Eu queria ser uma lésbica
Droga! Eu queria ser uma lésbica
Droga! Eu queria ser uma e queria que você fosse também
Para que eu pudesse me apaixonar por você

Você me liga de noite
E conta o que aprontaram com você dessa vez
E não importa nada, sempre estou do seu lado
Quando está chovendo nós vamos à locadora de filmes
Nós até gostamos dos mesmos filmes
Nada das merdas de jedis e hobbits dessa vez

E nós rimos das minhas piadas, nós rimos das suas piadas
E eu gosto de verdade dos presentes de aniversário que você me dá
Nós dançamos durante os filmes e em festas, dançamos, dançamos
Nenhum homem nunca dançou tão bem assim

Por que eu não me apaixono?

Por que eu não me apaixono logo por você

Que o amor é cego todos sabem, mas é inegável que dá vontade de dar um cão guia para esse sentimento ceguinho para conduzi-lo por caminhos mais seguros. Seria tão bom nunca se apaixonar por quem não te respeita, não te dá confiança, por quem não exista uma compatibilidade cultural, por quem está longe... Mas na maioria das vezes não é assim, e quando percebemos estamos nutrindo sentimentos por aquela pessoa que, se não fosse pelo nosso sistema límbico, passaria de longe de nossas vidas.
E é sobre isso que essa letra do Hello Saferide trata, escolher por quem nos apaixonamos. E as cantoras suecas ainda vão mais longe e não apontam uma pessoa aleatória para ser a razão de seu afeto, escolhem logo o melhor amigo. Elas discorrem como seria maravilhoso namorar alguém com quem temos uma afinidade infinita, que nos diverte, que preenche nossas vidas de maneira intensa e que faz com que qualquer tempo que passemos juntos sempre parecer insuficiente.
Realmente é uma maneira muito pratica de pensar, já temos intimidade e conhecimento sobre nossos amigos, compartilhamos muitos interesses em comum, sabemos o que nos deixa felizes, dessa formas muitos obstáculos de um relacionamento seriam facilmente ultrapassados. Mas ao mesmo tempo eu fico com receio de avançar nesse sentido com uma amizade. Paixão e sexo mudam de maneira drástica qualquer relacionamento e mesmo o amor mais sincero vindo de uma amizade sólida pode ser abalado. Acho que um dos grandes trunfos da amizade é justamente não entrar nesse território turbulento, embora como disse no começo do texto, se o ceguinho do amor um dia trombar de cara com a amizade, o melhor a fazer é se jogar mesmo já que nada consegue domar esse sentimento.
Por fim irei terminar com uma teoria que a integrante do Hello Saferide disse em seu show em Porto Alegre este ano: “Pessoas são como músicas. Vocês devem saber que música são. E se um dia encontrarem alguém que seja “Only God Knows”, do Beach Boys, fique com ela para sempre”.


Vídeo:

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

O pote de sorvete induz à solidão.



Tem coisa melhor do que chegar em casa super cansado da faculdade ou do trabalho e ir direto atacar um pote de sorvete?

Quadrado, enorme, 2 litros de puro prazer gelado.

Imagine-se num momento deprê: Você senta, sozinho, com aquele pote de sorvete e uma colher. Todo aquele sentimento de vazio vai embora por um momento, todo o sentimento de perda vai pro espaço, e o que se tem é uma sensação de preenchimento.

Quer coisa melhor que um pote de sorvete junto com uma sessão star wars num final de semana vazio na agenda?

Naquelas manhãs chuvosas detestáveis, abrir a geladeira e se deparar com um potão de sorvete prontinho pra ser devorado, parece que todo o cinza do dia vai embora e te deixa em paz.

Pode ser de flocos, hum, flocos, estalinhos na boca, crocante!

Pode ser de chocolate, morango ou creme, mas JAMAIS os três juntos, afinal, o napolitano não é um sabor aceitável, quando derrete é uma meleca de cor indefinida que pouquíssimas pessoas apreciam como se fosse um néctar divino.

A relação com o pote de sorvete é de companheirismo. Ele te dá todo prazer necessário, e ele só pede um pouquinho de atenção, pedindo pra que você não deixe derreter. Você não precisa de mais ninguém, só do seu pote de sorvete.

Mas cuidado, assim como num namoro, nesse tipo de relação um pode se tornar escravo do outro, e parar de ver pessoas, e passar a ter somente a companhia do outro, o que é muito prejudicial. Toda a vida social vai pro lixo, e você passa a viver em função do pote de sorvete, que pode inclusive te fazer engordar.

Aí, quando você estiver em depressão pós pote de sorvete, quem poderá lhe ajudar?

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Shortbus

Open your mind, and everything else.

Ontem fui assistir Shortbus no Festival do Rio. Fui com meus amigos e um deles tinha assistido o filme com a mãe, e disse que o filme era horrível. Antes de assistir li essa reportagem do Eduardo Simões na Folha ilustrada e tinha achado a ideia bem interessante, então foi com a "mente aberta" tentando não ser influenciada por opiniões alheias.

Depois da abertura sensacional do filme, logo nos primeiros minutos podemos perceber que esse não é um filme pra ser assistido COM A MÃE. Nem com o PAI. Cenas de nudez mais que frontal e sexo mais que explicito não é algo pra ser visto com parentes. A princípio, visto aleatoriamente, pode ser considerado um filme erótico, com cenas de sexo que pretendem chocar. Mas o filme não choca, as cenas de sexo são em sua maioria tristes, e são importantes pra trama.

Achei o filme bom, bem bom, nada extraordinário, não é vanguarda e nem vai mudar a sua vida. Minha amiga perguntou ao sairmos do filme: "Ok, qual a lição do filme?"
O filme não tem lição. E eu acho isso legal. Quem disse que todos os filmes tem que ter lição de vida? Filme é filme, é arte, não precisa ter lição, o que importa é ele em si, e não o que isso vai causar em você.

Pode ser que você vá e assista o filme e tire uma lição dele, e ele mude sua vida. Não foi meu caso, mas cada um tira a lição que quer de onde quiser, mas esse definitivamente não é o papel do cinema e nem da arte.

Então se você está curioso a respeito de Shortbus vá assistir, vale a pena, mas não leve sua mãe junto!

Trailer do filme:


quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Entrevista com Grace Gianoukas

Numa tarde de domingo, eu vasculhava o site do youtube quando me deparei com uma série de personagens hilários de uma peça chamada Terça Insana. Da curiosidade à paixão, foi um pulo.

Humor e crítica inteligente se misturam com precisão em situações do cotidiano, como a dificuldade vivida por uma idosa que sai de casa para ir ao banco pegar a aposentadoria, a esposa que não agüenta mais a inércia do marido ou a líder comunitária que esconde a comida para que a filha não coma tudo num só dia.

Acabei descobrindo que, na verdade, o Terça Insana é mais do que uma peça de teatro.

Idealizado por Grace Gianoukas, atual diretora artística, atriz e roteirista do show, o Terça Insana é um projeto que tem por objetivo provocar a produção de humor atualizado, crítico, inteligente, sem repetições ou piadas batidas e é também um espaço onde o ator é estimulado a escrever sobre o seu personagem. O projeto também mescla atores experientes e não tão experientes, e o efeito é algo totalmente novo e diferente do que você já viu por aí.

Tivemos a oportunidade de entrevistar a atriz e diretora do Terça Insana, Grace Gianoukas. Confiram!




Danielle: Você declarou que um dos pontos importantes do projeto Terça Insana é a atuação e o equilíbrio entre atores consagrados com atores ainda sem grande projeção. Como cabeça do time, já houve necessidade de gerenciar os egos?

Grace: Ôpa.... É claro que sim. Essa questão de egos inflados está em todos os lugares, em todas as relações humanas. Basta a gente olhar ao redor pra ver o chefe de família ditador, o irmão mais velho opressor, a mais bonita da escola que tem o nariz empinado, o professor prepotente-detentor único do verdadeiro saber, o publicitário do ano + tênis puma + arauto do consumo....
As pessoas que sofrem desta neurose, não tem uma imagem real sobre si mesmas, sua auto-estima é míope, ora se acham uma merda, ora se acham o máximo.
Tem gente que faz teatro porque é carente, quer ser aceito, quer ser querido e importante... Entra no projeto muito inseguro, muito humilde, mas insiste em fazer do seu jeito... começa errando, passa a prestar atenção nos comentários da direção, mas vai perguntar também pro ator mais aplaudido da noite, pro garçon ..etc..Um dia começa a entender que a direção está apontando caminhos estéticos que dizem respeito à linguagem, estilo e ideologia do projeto...Ai acerta um dia, acerta noutro, ganha muitos aplausos do público, elogios do garçon, sorrisos de fãs...as portas se abrem nos eventos vip, todo mundo quer come-lo, Ele é um sucesso não tem mais que se submeter as orientações ridículas desse diretorzinho burro....e parte em carreira solo, certo de que seu nome atrairá ordas de público e de que sem ele o projetinho que acabou de deixar sucumbirá.....
Tem diretor que dirige com o pau...que quer seduzir os atores e atrizes que contrata....
Tem de tudo.
É difícil não se deslumbrar um pouco com o sucesso, quase todo mundo é vítima disso, mas sempre tem a queda pra dar uma chuveirada gelada no desavisado. Uns acordam bem e voltam pra realidade,outros não admitem acordar e passam a inventar uma realidade...

NORMAL


Danielle: O projeto Terça Insana já foi alvo de preconceito por parte de atores de teatro mais experientes, que atuam com textos mais clássicos, por exemplo? Como o projeto vêm sendo recebido nesse meio?

Grace: Não sei, mas se foi eu não teria como responder pois ninguém costuma falar essas coisas na frente da gente, né?
Recebemos muitos incentivos, elogios e apoio de artistas de todas as áreas, são colegas que eu respeito profundamente como Miriam Muniz, Maria Alice Vergueiro, Fauze Arape, José Possi Neto, Cláudio Tovar, Millor, Lobão, Fernando Meirelles, Marcelo Tass, Cláudia Gimenez, Jorge Louredo...para citar alguns.
Mas nunca, nestes 6 anos recebemos uma indicação pra premio, ou honra ao mérito, ou matéria nas revistas da classe teatral, embora muitas pessoas responsáveis por estas indicações e pautas sejam atores envolvidos com instituições e estejam, agora, participando de projetos inspirados na Terça Insana. Isto parece indicar que eles gostam muito mas esqueceram de dizer.


Danielle: Como você seleciona os atores e autores que vão trabalhar no Terça Insana? Quais são os critérios?

Grace: Em primeiro lugar tem que ter opinião pessoal, criatividade e cultura.

TEMOS COMPROMISSO ARTÍSTICO COM:
-personagens originais
-abordagens inusitadas
-humor que revele a graça em situações inéditas.
-elegância e inteligência crítica sobre o contemporâneo,
-não reforçar preconceitos.

O QUE NÃO ENTRA NA TERÇA INSANA?
-Imitação
-Piada pronta
-Preconceito

POR QUÊ?
Ainda hoje, é constante a sensação de dejavú diante de muitas produções de humor.
Preocupadas em agradar o público, essas montagens copiam as formulas que julgam “populares”, contam as antigas e previsíveis piadas de sempre, onde as mulheres são gostosas e burras, ou velhas feias e fofoqueiras, onde todo homossexual é ridicularizado, onde negros são serviçais ou maus caracteres, onde eternamente se pratica a humilhação de anões e de pessoas humildes.
Este é um humor arcaico, covarde, pobre em auto-critica, que ignora os avanços filosóficos, científicos, sociais, inventa e institucionaliza preconceitos.
O que há de engraçado na sexualidade de alguém? E em ser anão? Ou estar fora dos padrões estéticos impostos pela mídia?


Danielle: Temos notícias de que você criou cerca de 39 personagens. Existe uma pitada de Grace nesses personagens ou são o resultado de pura criação?

Grace: A maioria das minhas personagens é criada para ser porta-voz de uma opinião minha sobre algum assunto, pra defender um ponto de vista que tenho.


Danielle: Falando em personagens, a sua Cinderela passa longe da imagem de borralheira que espera que um milagre transforme a sua vida e traga de bandeja um príncipe encantado. Por quê você resolveu batizar essa mulher independente, dinâmica e empreendedora de Cinderela?

Grace: Em 1991 eu escrevi uma comédia “Não Quero Droga Nenhuma - a comédia”que falava sobre dependência química, trafico de drogas, corrupção, A Cinderela era a personagem central deste espetáculo solo que ficou em cartaz 5 anos.
Havia nos anos 70 um quadro no Programa Sílvio Santos que se chamava “Boa Noite Cinderela”onde meninhas pobres escreviam cartinhas contando sua vida de necessidades...geralmente a mais fudida era a ganhadora de muitos prêmios...
A personagem do meu espetáculo “Não Quero Droga Nenhuma- a comédia” era Maria de lourdes Pereira, menina favelada, filha de pai alcoólatra e mãe lutadora que acaba vencendo um desses concursos e ganha, na sua comunidade o apelido de Cinderela, vai crescendo e desenvolvendo sua DQ, usa todas as drogas e acaba se tornando a maior traficante do país.
Foi a primeira vez que alguém ousava falar abertamente sobre a doença chamada Dependência Química, dar a real sobre drogas sem julgar se tá certo ou errado, informar tudo sobre os diferentes baratos de cada droga e ainda lidar com este tabu com humor. Só em 2001 ou 2002 a TV abordou isso numa novela.


Danielle: “Sou surda-muda, minha amiga é cega e virgem, mas, mesmo assim, somos atrizes e estamos em cartaz. Vão nos assistir, pelo amor de Deus!”.
Esse foi o anúncio que você usou, no início da carreira de atriz, para sensibilizar transeuntes a irem assistir ao seu trabalho.
Na sua percepção, o que funcionou melhor como chamada? Ser surda-muda ou cega e virgem?

Grace: O que funcionou foi o inesperado, darmos uma nova cara, outra leitura pra uma coisa séria que acontecia sempre (as pessoas deficientes distribuíam estes flyerzinhos pedindo grana). A graça estava no “virgem”como deficiência física.


Paula: O Rá tim bum era um programa diferenciado porque era divertido e educativo ao mesmo tempo. Hoje programas como esse têm um espaço cada vez menor na tv aberta. Qual a sua opinião sobre os programas infantis atuais da tv aberta?

Grace: Não assisto TV. Me orgulho profundamente de ter participado de um projeto tão perfeito na sua meta sócio-cultural como o Ra-tim-bum, pois a TV é uma concessão do estado para levar cultura e diversão para o público. Deixei de ver TV a muito tempo.Pra que ditadura militar se a gente tem redes de televisão?


Danielle: Em uma de suas entrevistas, você afirma que o humor, se trabalhado com inteligência e elegância, funciona como um KY (lubrificante) para alguns assuntos que são tabus, para que eles possam ser discutidos mais facilmente.
Na sua opinião, o atual cenário político brasileiro vêm estimulando o uso de KY ou algo mais radical, como chicotes, alargadores e bofetes?

Grace: Em primeiro lugar essa gente que se candidata a viver de política não me representa. Não sei quem são, nunca convivi. Como posso eleger como meu porta-voz. Vcs conviveram com eles tempo suficiente pra escolhe-los ou votaram através da informação na mídia. Foi através da propaganda?
O cenário atual é o retrato dos últimos capítulos do “120 dias de Sodoma” do Marques de Sade. O livro tem o “ciclo das paixões assassinas”. Somos os escravos, eles os senhores. Neste momento ninguém mais entre os senhores precisa tentar nos violar, isso já foi feito.nem lembram de KY.
Alargadores e chicotes são coisas que eles utilizaram em nós, mas que fazem parte de ciclos passados. Estamos sendo assassinados com requintes de tortura pra que eles possam gozar, eles se deliciam com cada olho, com cada clitóris arrancado a sangue frio, de cada um de nós.


Morgs: Você concorda com a afirmativa 'A Liberdade é uma comédia aos sábados'? Por que?

Grace:
Concordo. Adoro.

Vou deixar que o mestre poetinha, aqui abaixo, responda por mim o porquê.

"Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz para nos salvar

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado....."
(etc.......)


Vinicius de Moraes


Danielle: Você acredita em tudo o que mescla sexo, gastronomia e música de qualidade ou acha que essa tríade é mais um besteirol americano?

Grace:
Se vc afirma que existe isso, eu talvez deva acreditar na existência...Mas não conte comigo pra ir conferir...detesto repetição de fórmulas que deram certo...”este tipo de coisa não me representa”.
Vamos criar.


Valeu pela entrevista, Grace Gianoukas! Fica a nossa dica, para quem mora em SP: Vão conferir o Terça Insana que é muito legal. Para quem não mora em SP, procurem o DVD ou torçam para que a sua cidade seja incluída na turnê do grupo. Eu já estou torcendo!

Que Legal!

Site da Terça Insana